Rede Record e o Soft Power Hollywoodiano
Soft Power
No mundo das Relações Internacionais, há o conceito de “Hard Power”, que nada mais é do que um Estado impondo sua vontade através do seu poder bélico ou econômico, pode ser chamado também de diplomacia coercitiva.
Já o conceito de “soft power” (poder brando ou poder suave) se refere à capacidade de influenciar indiretamente uma organização ou um grupo de pessoas. Criada pelo professor de Harvard Joseph Nye em 1980, esse conceito largamente mencionado no campo das relações políticas também é utilizado quando se investiga a interferência nos campos culturais e ideológicos, assim como, em questões internas desses atores, não obrigatoriamente, engessando-o às relações entre Estados.
O poder das telas no peso da opinião pública
Os anos 70 nos EUA foi marcado por duras críticas de Hollywood ao alto comando do governo, “Todos os homens do presidente” (1976), de Alan J. Pakula criticou todo o sistema político do país, enquanto “Mash” (1970), de Robert Altman, criticou e a Guerra da Coreia; e “Apocalypse now” (1979), de Francis Ford Coppola, a do Vietnã.
Notando isso, houve nos anos 80 uma virada de mesa. O próprio governo passou a investir pesado em propaganda através da dramaturgia, o que antes era usado para questionar, agora era uma extensão da Casa Branca. Como foi o caso de Rambo, e tantos outros Blockbusters desde então.
O projeto político da Record
Não é novidade para ninguém que Edir Macedo, dono da Record e da Igreja Universal do Reino de Deus possui seus projetos políticos. O Bispo tem canal de TV, igreja, um pequeno exército (Gladiadores do Altar) e até partido político(PRB). Não é de hoje que mesmo as disputas presidenciais passam por seu aval (principais concorrentes vão orar em suas igrejas).
Durante as eleições de 2018, vários funcionários da Record denunciaram a emissora por obrigá-los a fazer matérias contra certos candidatos e a favor de Bolsonaro, fato esse que gerou até demissões. O todo poderoso tomou partido e decidiu virar protagonista, com a eleição de Bolsonaro, sua emissora passou a ser porta voz do governo, sempre concedendo espaço quando solicitado e jamais fazendo pergunta impopular, nem mesmo aos amigos do Presidente que são investigados por corrupção e lavagem de dinheiro, como o famoso Queiróz.
Costumeiramente exitoso, o bispo criou uma espécie de Guerra Fria na televisão brasileira, é comum ouvir pessoas que dizem que não assistem TV de jeito nenhum pois ela só ensina o que não presta, sendo a Rede Globo o maior de todos os Anticristos, mas que a Record sim, essa tem conteúdo para “a família”.
O novo empreendimento do Imperador
O sempre sagaz Edir Macedo inaugura amanhã uma nova ramificação de poder, o Soft Power Hollywoodiano. Após lucrar com seus dramas bíblicos, que unem seus dois maiores empreendimentos, o dono da Record abriu um leque interessante de influência político-social, uma novela que abordará temas do dia a dia, ao estilo Rede Globo, porém com um diferencial interessante.
Um dos núcleos será o tema “Drogas em universidades públicas e em repúblicas”. Praticamente quarenta anos depois, chega ao Brasil uma combinação de muito sucesso nos EUA: O uso da ficção para influenciar a vida real e trazer o grande público para apoiar as decisões de um governo.
Talvez nem seja preciso dizer o quão perigoso isso é, pois incita ainda mais esse “nós contra eles” que há na sociedade brasileira, inflama esse clima de Guerra Fria dentro do entretenimento, com probabilidade de extensão para as ruas, para o cotidiano.
Se engana quem acha que haverá uma abordagem minimamente imparcial e com doses didáticas com estudos e esclarecimentos sobre o uso de drogas por jovens, ou sequer, que trarão para o debate as universidades privadas, por exemplo. Se engana mais ainda quem acha que o Imperador irá parar por aí.
Agora que ele descobriu o gostinho do poder de influenciar a realidade através da ficção, de difamar e/ou popularizar governos diretamente jogando para a telinha os temas em debate no Congresso Nacional, ninguém irá segurar Cesar, esse é só o começo.