O Declínio da hegemonia norte americana
Para muitos, o ápice da hegemonia dos EUA se deu com a queda do Muro de Berlim em 1989, e o começo de sua queda foi quando o país resolveu invadir o Iraque em 2003 em uma polêmica medida unilateral, já que a ONU vetou tal intervenção. Com o fim da Guerra Fria, os EUA passaram a ter uma posição de destaque como nunca se viu no planeta desde o Império Romano. Porque então apenas trinta anos depois o mundo se encontra na condição de “multipolar”?
Sob o foco econômico, surgiram várias potências regionais, como o crescimento da China. Com um aumento anual do PIB como nunca se viu antes, o país mais populoso do mundo rapidamente entrou no cenário mundial como um possível concorrente aos EUA. A Rússia vem logo atrás, com a economia fortalecida no começo dos anos 2000, buscou expandir sua influência pelo globo, principalmente com as ex-repúblicas soviéticas, criando um clima de revanchismo no ocidente. Nesse mesmo período surge também o Brasil, que chegou perto de ser a quinta maior economia do mundo, encabeçando um temível projeto chamado BRICS, mas que no meio do caminho se perdeu, embora ainda resista.
Geopoliticamente, os ataques de onze de setembro e as incessantes guerras ao terror arranharam a imagem de “polícia do mundo” da nação norte americana. O posicionamento autoritário, as ameaças veladas de “Quem não está com a gente, está com os terroristas” de Bush e os posicionamentos dúbios com relação aos diversos países ditatoriais do Oriente Médio, fizeram com que nascesse um antiamericanismo por todo o canto do planeta. Principalmente quando se constatou que essa invasão unilateral ao Iraque foi baseada em uma mentira de que Saddam possuía armas de destruição em massa. E com a Guerra da Síria, veio o golpe final, quando a coalizão formada pela Rússia finalmente enfraqueceu o Estado Islâmico que só ganhou territórios em anos de combate com a OTAN.
Segundo especialistas, o maior erro americano foi não dar a devida atenção aos novos conflitos que emergiram no contexto do pós Guerra Fria, alguns defendem até que o país deveria ter criado uma espécie de novo Plano Marshall para essas regiões, como o Cáucaso, os Bálcãs e a África para manter sua esfera de influência. Hoje, a China é o maior parceiro comercial de boa parte da África, tendo um grande peso nas decisões políticas desses países, o Cáucaso fica dividido entre Turquia e Rússia, e os Bálcãs entre Rússia e Europa.
Com Trump, os EUA perdem seu soft power de uma maneira ainda mais veloz, seus discursos nacionalistas e protecionistas, suas ameaças de transformar sanções e alíquotas em diplomacia e barganhas comerciais e suas decisões de sair de diversos acordos multilaterais, encolhem a esfera de influência do país no mundo todo.
O último grande império antes dos EUA foi o Britânico, que ruiu após as Grandes Guerras e as pressões internas das colônias para uma maior autonomia, mas que apesar de tudo, se saiu muito melhor que outras grandes potências colonizadoras como Espanha, Portugal e até mesmo a França, justamente por não tentar manter seu domínio à força até as últimas consequências (com algumas exceções como com a Índia e as Malvinas), foi essa retirada pacífica dos britânicos que permitiu a criação da Commonwealth composta por dezesseis países e a devolução de Hong Kong. Medidas essenciais para que o Reino Unido continuasse mantendo sua influência política, econômica e cultural nessas regiões.
A pergunta que fica é: saberá os EUA a hora de parar de tentar influenciar e manter a hegemonia através de demonstrações de força, sejam elas políticas, militares ou econômicas? Ou irá para as últimas consequências não sendo capaz de enxergar a mudança dos tempos criando crises, guerras e um sentimento negativo por todo o globo até um momento em que ninguém mais irá apoiá-lo?