Finanças Islâmicas
Finanças Islâmicas são atividades bancárias ou financeiras que atendem a Sharia (lei islâmica), e portanto, não permitem a cobrança de juros e ficam longe de negócios que são proibidos pelas leis islâmicas como álcool, carne de porco, pornografia e jogos de azar. Na realidade a prática que é chamada de Usura é proibida em todas as religiões Abraâmicas (judaísmo, cristianismo e islamismo) mas isso fica para outro dia.
Instituição financeira que não cobra juros? Sim!
Ainda de acordo com a lei islâmica, o dinheiro não pode ser usado para gerar mais dinheiro e cobrança de altas taxas de juros, especialmente para os necessitados, a prática é considerada antiética e, portanto, proibida.
E como eles se sustentam?
Os bancos islâmicos não se envolvem em investimentos arriscados e especulativos. É preciso possuir o que se vende, portanto, derivativos convencionais como futuros, swaps e contratos a termo não são permitidos. Em vez disso, os bancos devem estar na frente de seus investidores, identificando os riscos envolvidos de antemão e garantindo que os investidores entendam em que estão investindo seu dinheiro. Essa é em grande parte a razão pela qual o setor financeiro islâmico escapou das repercussões diretas da crise financeira de 2008.
O primeiro banco islâmico nasceu no Paquistão e fracassou, durante a década de 1970. Nesse período, as operações bancárias comerciais que utilizavam financiamento islâmico foram o tipo mais comum de operação bancária islâmica. Em 1980, os bancos islâmicos passaram a sindicar e financiar projetos. Os anos 90 trouxeram a ideia de patrimônio e Ijarah (leasing), que diversificaram muito as opções do setor. Os anos 2000 levaram as instituições para outro patamar. Isso se deve ao surgimento de sukuk e outros ativos financeiros islâmicos estruturados que surgiram, juntamente com a proliferação de um mercado de capitais robusto.
A ideia central dessas instituições é a partilha de lucros e perdas. O banco islâmico não é um simples provedor de fundos: ele entra como uma espécie de sócio da operação.
Em suma, há uma ênfase em ações e investimentos na economia real. É preciso trabalhar para obter lucros, simplesmente emprestar dinheiro a alguém que precisa não conta como trabalho. Ainda que soe um pouco paradoxal, e de fato o é, o Islamismo encoraja sim a maximização das riquezas, é permitido ganhar dinheiro, porém, desde que não se crie uma situação de desequilíbrio social ou que violem as normas da justiça e moral islâmicas.
Opções e produtos:
– Carteiras de ativos destinadas apenas à compra de mercadorias. Ao invés de contrair um empréstimo com juros para comprar algo, o cliente pede ao banco que compre um item e venda para ele a um preço mais alto em prestações. O lucro do banco é determinado antecipadamente e o preço de venda não pode ser aumentado após a assinatura do contrato.
– Empréstimo para um cliente comprar um produto como carro, o banco compra o produto e o aluga ao cliente. O cliente adquire o item no final do contrato de arrendamento.
– Participação nos lucros: investimento em que o banco fornece 100% do capital destinado à criação de um negócio. Ele possui a entidade comercial e o cliente fornece gerenciamento e mão-de-obra. Eles compartilham os lucros de acordo com uma proporção pré-estabelecida que geralmente é próxima de 50/50. Se o negócio falir, o banco sofrerá todas as perdas financeiras, a menos que seja comprovado que foi culpa do cliente.
– Sukuk: A empresa que busca recursos atrela um de seus ativos ao sukuk (instrumento semelhante aos títulos de dívida do sistema convencional). Esse ativo é repassado ao emprestador, que se beneficia por meio do lucro gerado por ele. No final, o ativo é vendido novamente para o emissor do sukuk. As transações são estruturadas a partir dos ativos. Não existe a ideia de compra de expectativa.
– Halal: Esse nome pode não ser tão estranho aos brasileiros, isso por que, o país é o maior exportador do mundo. Halal é o nome a criação e abate de carne de frango que seguem as leis islâmicas. A JBS e a RBF são especialistas nesse tipo de mercado. O setor movimenta US$ 2,1 trilhões em todo o mundo e tem potencial para atingir mais de um bilhão de consumidores.
Dados
– De acordo com um relatório de 2017 da Thomson Reuters, as finanças islâmicas são uma indústria de US $ 2,2 trilhões e devem crescer para US $ 3,8 trilhões até 2022
– Os participantes mais proeminentes incluem os estados do golfo – Bahrain, Kuwait, Arábia Saudita, Omã, Catar e Emirados Árabes Unidos (EAU), Malásia e Brunei
– Brunei destinou um total de $ 414,7 milhões (US $ 306,3 milhões) para financiar o estabelecimento da bolsa de valores do sultanato, dos quais $ 22 milhões (US $ 15 milhões) foram incluídos no orçamento proposto pelo Ministério das Finanças e Economia para o ano fiscal de 2019/2020
– O Pew Research Center prevê que o número de muçulmanos em todo o mundo deve aumentar constantemente para 26,5% em 2030, 28,1% em 2040 e 29,7% em 2050, colocando-a como a segunda maior religião em crescimento no mundo depois do cristianismo.
– Na última década, as finanças islâmicas cresceram a um ritmo anual significativo de 10 a 12%.
– Conferências internacionais em países não isâmicos: Argentina, Espanha, França, Turquia e outros
– Países não-islâmicos que aplicam o sistema: Reino Unido, Luxemburgo, França, Cingapura, Hong Kong e Coréia do Sul.
– Sukuk – também conhecido como títulos “compatíveis com a sharia” – está prosperando na Malásia. O país responde por 82% do total de sukuk do Sudeste Asiático em circulação e 72% das emissões da região.
– Plataforma de investimento online chamada Wahed Invest foi lançada no Reino Unido em 2018 como opção de investimento ético para os muçulmanos britânicos.
– Estima-se que as reservas de petróleo do Brunei se esgotem até 2035. O país já manifestou seu interesse em analisar o turismo para diversificar sua economia. As finanças islâmicas parecem ser uma combinação lógica disso e podem fornecer a Brunei o impulso extra necessário para enfrentar os desafios do futuro.