A maior economia emergente do mundo
Em fevereiro de 2020, o Parlamento da UE ratificou um Acordo de Livre Comércio União Europeia-Vietnã chamado de EVFTA. É o segundo entre a UE e um país da ASEAN, o primeiro foi com Cingapura. A UE é o segundo maior mercado de exportação do Vietnã, ficando atrás somente dos Estados Unidos, representando 17% das suas exportações. Enquanto os produtos vietnamitas representam apenas 2% das importações globais da UE, o valor das importações da UE do Vietnã aumentou de US $ 8,63 bilhões para US $ 42,5 bilhões durante o período de 2008-2018.
Agora na virada do ano foi a vez do Reino Unido fechar um acordo similar com a nação asiática, o chamado UKVTFA. O Vietnã é o segundo maior exportador do Sudeste Asiático para o Reino Unido, depois da Tailândia, com comércio bilateral entre os dois países igualando US $ 6,7 bilhões em 2019.
O timing dos acordos é perfeito, há uma necessidade operacional de impulsionar a economia para todos os lados. Além da pandemia, a Europa passa pelo período de incertezas pós-Brexit. Do outro lado, Hanói tem sido uma das grandes entusiastas da globalização, o país conseguiu se transformar de um país isolado em uma das economias mais integradas globalmente, com um comércio total em 2019 de US $ 518 bilhões em mercadorias e US $ 50 bilhões em serviços. A previsão do crescimento para 2020 está em 4,8% e mais de 6% para 2021.
União Europeia
Com o acordo com a UE, o Vietnã espera um aumento do PIB do país em 3,25% em 3 anos, 5,30% até 2028 e 7,72% até 2033. As exportações para a UE devem aumentar 20% em 2021 e o número deve duplicar em 2025. Há também a possibilidade de o salário dos trabalhadores qualificados aumentar até 12%, e 13% para os trabalhadora chamados de “comuns”. Estima-se que cerca de com os salários dos trabalhadores comuns a aumentar em 13 %, o Acordo pode ajudar a tirar cerca 800.000 pessoas podem sair da pobreza até 2030. Por outro lado, a UE atinge um objetivo de longo prazo de alargar a sua influência e expansão nos mercados da ASEAN.
Estima-se que os investidores da UE tenham investido mais de US $ 23,9 bilhões em 2.133 projetos no Vietnã em 2018. Os investidores da UE atuam em 18 setores econômicos, incluindo manufatura, eletricidade e imobiliário. Também se espera que haja um crescimento rápido e sustentável nos setores de tecnologia e financiamento de crédito no país.
O FTA eliminará quase todas as tarifas (mais de 99%), o Vietnã irá liberalizar 65% dos direitos de importação sobre as exportações da UE para o Vietnã na entrada em vigor, com o restante dos direitos sendo gradualmente eliminados ao longo de um período de 10 anos.
Apenas alguns produtos agrícolas sensíveis não serão totalmente liberalizados, mas a UE ofereceu acesso às exportações vietnamitas por meio de cotas tarifárias (TRQs): arroz, milho doce, alho, cogumelos, açúcar e produtos com alto teor de açúcar, amido de mandioca e atum enlatado.
Já sobre barreiras não-tarifárias, O acordo reduz ou elimina barreiras não tarifárias no setor automotivo e com respeito ao licenciamento de exportação e importação e procedimentos aduaneiros. Notavelmente, para itens não agrícolas (exceto produtos farmacêuticos), o Vietnã aceitará produtos marcados como “Fabricado na UE”.
No setor de serviços, o EUVFTA cobre uma ampla gama de setores de serviços, incluindo serviços financeiros, serviços empresariais profissionais, serviços de comunicação, serviços postais, construção e serviços de engenharia relacionados, serviços sociais e de saúde, serviços ambientais e serviços de transporte. Há também detalhes sobre compras governamentais, regulações bancárias com aumento de entrada de capital estrangeiro e de propriedade intelectual.
Reino Unido
O acordo de livre comércio foi assinado pelos embaixadores dos dois países em Londres. As principais exportações para o Reino Unido incluem telefones celulares, roupas e têxteis e frutos do mar. O Reino Unido também busca no Vietnã por bens e serviços como educação , energia renovável , tecnologia, infraestrutura e saúde . Na verdade, é o maior investidor estrangeiro no setor de educação do Vietnã.
A terra da Rainha poderá investir também no setor energético, o governo vietnamita reitera sua posição de que as energias renováveis contribuam com 20% de seu suprimento total de energia até 2030, o que está em via de se concretizar, apesar da pandemia.
Em questão de 5, 6 anos o país viu sua energia limpa sair de 0 para 10% da capacidade total. Com uma taxa de crescimento anual em torno de 6%, o consumo de eletricidade tem aumentado em mais de 11%, e isso está alimentando uma demanda quase insaciável por mais geração de eletricidade e investimento.
Há também a necessidade de diversificar para ficar menos vulnerável a mudanças climáticas, assim como, demonstrar para investidores estrangeiros que é uma nação segura sem riscos de desabastecimentos energéticos.
Esse alto crescimento gera também gargalos nas grandes cidades, quase 50% já vivem em centros urbanos, as autoridades em Hanói estão promovendo a construção de sistemas de metrô e ferrovia na faixa de US $ 22 bilhões na esperança de diminuir o congestionamento do tráfego e melhorar a qualidade do ar para que o país não sofra com algo semelhante com que a China vem passando.
Conclusão
Dá para afirmar sem sombra de dúvidas que o Vietnã é a economia emergente do momento, além dos acordos citados, possui acordo com os Estados unidos além dos multilaterais de peso como o recém criado RCEP, que é o maior acordo da história, o CPTPP, que também tem sua importância.
Outro ponto estratégico é o fato de ter condições de receber inúmeras empresas que tentam diversificar sua produção e ficar menos dependentes da cadeia global de suprimentos da China, sua desconfiança histórica para com Pequim e mão de obra barata com alta qualificação faz do país uma espécie de “a próxima China” ou “mini China” como alguns tratam.
O país também é cortejado militarmente devido ao seu posicionamento estratégico no Mar do Sul da China, tentar frear o avanço político, econômico e militar chinês é prioridade de Estado para o ocidente e para os EUA em particular. O Vietnã está na ASEAN, é seduzido pelo QUAD e vem fortalecendo exercícios militares com a Índia, outra rival histórica dos chineses.
Segundo dados do Banco Mundial: mais de 45 milhões de pessoas foram tiradas da pobreza, as taxas de pobreza extrema caíram de mais de 70% para menos de 6%. Está em 48º no ranking de IDH mundial, o segundo de toda Asean, ficando atrás somente de Cingapura.
Recebeu pontuações notavelmente altas no Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (PISA) em 2012 e 2015, onde o desempenho dos estudantes vietnamitas supera o de muitos países da OCDE, cerca de 99% da população tem energia elétrica e o acesso a água potável está em 70% para moradores rurais e 95 para os urbanos. Dá para dizer que a política Doi Moi está por trás de todo esse sucesso. Foi um modelo criado ainda em 1986 para fazer algo similar ao que vinha fazendo a China: economia de mercado de orientação socialista.
Referências
https://thediplomat.com/2020/06/vietnam-ratifies-eu-free-trade-agreement-whats-next/
https://www.netherlandsworldwide.nl/countries/vietnam/doing-business/eu-vietnam-free-trade-agreement
https://www.whitecase.com/publications/alert/new-eu-vietnam-fta-enters-force
https://www.lexology.com/library/detail.aspx?g=002a7e0a-acc0-4a27-8a02-5fef47d3cbe1
https://thediplomat.com/2021/01/whats-driving-vietnams-renewable-energy-boom/
https://www.vietnam-briefing.com/news/vietnam-uk-sign-free-trade-deal-look-to-strengthen-ties.html/