Yuan Digital
A pandemia do coronavírus acelerou significativamente a transformação digital, um estudo feito em julho da empresa Twilio, que fornece uma plataforma de comunicações em nuvem, alegou que 70% dos entrevistados acham que mais pessoas usarão e com mais frequência o comércio digital, foram mais de duas mil questionadas em dez países.
Quando divididas por setores, as empresas de tecnologia, energia e saúde afirmam que têm maior probabilidade de acelerar a transformação digital. Já as empresas de energia, construção e finanças afirmam que adicionaram novos canais digitais durante a pandemia, como chat ao vivo e funções de vídeo.
A transformação digital no setor financeiro é imensa, além de tornar os serviços bancários mais convenientes, essas tecnologias permitiram que as instituições financeiras expandissem e aprimorassem seus serviços através das novas tecnologias como big data, computação em nuvem e inteligência artificial. Os bancos comerciais melhoraram muito sua capacidade de atender pequenas, microempresas e pessoas comuns.
O ponto central desse novo mundo que se abre são as moedas digitais, elas agitam o cenário econômico há cerca de um ano, mas poucas conseguiram atrair tanta atenção quanto o Yuan digital da China. O país está investindo pesado para chegar na fronteira tecnológica, muita gente compara essa corrida pelo domínio da inovação com a corrida espacial na Guerra Fria.
A chamada “winner takes all”, em outras palavras, quem consegue chegar primeiro fica com todo o mérito, torna-se um modelo a ser seguido e ainda pode exportar o método e usá-lo como ferramenta política.
A parceria público-privada é vital para acelerar o processo de digitalização da moeda e da economia do país, a sinergia do governo com bancos e as empresas privadas do setor como a Alibaba, dona do Alipay e a Tencent, dona do WeChat, duas empresas que possuem aplicativos que fazem pagamentos e envio de dinheiro. Elas dominam 94% do mercado, cada um deles possuem pouco mais de 1 bilhão de usuários, e ambas estão trabalhando com o governo no projeto do Yuan Digital. E a Tencent atingiu um valor de mercado de US$ 500 bilhões recentemente.
O Yuan digital ainda é totalmente experimental, como quase toda política nova no país e somente para funcionários públicos e de quatro regiões. Shenzhen, no sul da província de Guangdong, Suzhou, no leste da província de Jiangsu, a nova zona econômica de Xiongan perto de Pequim e Chengdu, capital da província de Sichuan, no Sudoeste.
Em agosto um comunicado anunciou que o projeto será expandido para Pequim, Tianjin, Hebei, Delta do Rio Yangtzé e Guangdong, bem como as cidades vizinhas de Hong Kong e Macau. Inicialmente, o projeto ficará em teste até 2023 com previsões para o mercado mundial apenas em 2025.
No mesmo mês, a China anunciou o lançamento de um centro comercial digital com os países do sudeste asiático visando atrair mais de 10 mil empresas até 2025. O governo de Guangxi disse que o centro será construído em duas fases. Até o final de 2021, 5 bilhões de yuans (US $ 724 milhões) serão investidos no centro, permitindo-lhe acomodar 4.000 empresas já de início, com mais de cinco armazéns no exterior e centros de exposição nos países envolvidos.
Lembrando que, embora seja uma criptomoeda e utilize a tecnologia blockchain, é totalmente controlada pelo estado, não tem nada a ver com a ideia e o funcionamento do Bitcoin. No país, menos de 5% do dinheiro é físico e mais de 80% dos usuários de internet pagam conta pelo celular, mas ainda cerca de 225 milhões de pessoas estão fora do sistema bancário vigente.
Vetores para a aceleração da moeda china no cenário global: A) aumento da participação de empresas e bancos no exterior. B) Usar seus bancos multilaterais (New Development Bank também conhecido como Banco dos Brics e Asian Infrastructure Investiment Bank (também chamado de Banco Asiático para Investimento em Infraestrutura), como fonte de empréstimos geralmente em sua moeda.
Já os maiores desafios para esse projeto são: baixa confiança mundial em seus títulos públicos para que possam virar âncoras da riqueza global, grau de abertura, de desenvolvimento no mercado de capitais e a taxa de câmbio controlada pelo governo.
O Renminbi teve ganhos significativos nos últimos anos, tanto como meio de pagamento quanto como moeda de reserva, fortalecido principalmente através das parcerias com outros países em desenvolvimento.
A finalidade é se distanciar das moedas digitais que se baseiam no dólar e ter um controle mais centralizado das transações, evitando as concorrentes ocidentais.
Nenhuma moeda no mundo teve um aumento maior na participação global nos últimos vinte anos como a chinesa. Veja gráfico:
$ 2001 2019
USD 89,9 88,3
Eur 37,9 32
Yen 23 16
Libra 13 12
Aus 4,3 4,7
Cad 4,5 5
Franco 5 4,9
RMB 0 4,3
Ainda que seja um valor inexpressivo, apenas o oitavo, o aumento é surpreendente, principalmente se considerar que apenas na virada do século o país de fato começou a se preocupar com a futura rivalidade com os EUA e os possíveis desdobramentos dela.
Interessante notar que, mesmo para a China, a ruína repentina do dólar é negativa. Acredita-se que mais da metade das reservas cambiais no valor de US$ 3,1 trilhões do Banco Central Chinês, a maior participação do mundo, seja em dólares. A China também detém mais de US$ 2 trilhões em ações de investimento externo, a grande maioria localizada em países desenvolvidos.
Ou seja, se o dólar sumisse da noite para o dia, depois dos EUA claro, o país que mais sofreria perdas é justamente a China. Esse intrincado cenário moderno é o que se diferencia do embate EUA x U.R.S.S.
Por esse fator, o país precisa pouco a pouco diminuir sua dependência do dólar criando alternativas lucrativas sem criar grandes ruídos ou ele mesmo será duramente atingido pela instabilidade mundial.
Referências
https://www.scmp.com/economy/china-economy/article/3092147/us-coronavirus-stimulus-reignites-chinas-criticism-dollar
https://www.statista.com/statistics/233674/distribution-of-global-currency-reserves/
https://www.project-syndicate.org/commentary/china-digital-economy-transformation-pandemic-by-zhang-jun-2020-09?barrier=accesspaylog
https://www.straitstimes.com/business/companies-markets/pandemic-has-sped-up-digital-transformation-in-firms-study
https://asiatimes-com.cdn.ampproject.org/v/s/asiatimes.com/2020/08/china-asean-to-launch-digital-trade-center/?usqp=mq331AQFKAGwASA%3D&_js_v=0.1#referrer=https%3A%2F%2Fwww.google.com&_tf=From%20%251%24s&share=https%3A%2F%2Fasiatimes.com%2F2020%2F08%2Fchina-asean-to-launch-digital-trade-center%2F