Ordem Mundial em Risco

 

Ordem mundial estável é uma coisa rara, de tempos em tempos surgem grandes quebras da ordem vigente com desejos de algo novo, o equilíbrio se desequilibra e as instituições não se adequam aos novos cenários. Inevitavelmente, até mesmo a ordem mais bem administrada chega ao fim.

Prever que há um fim é diferente de determiná-lo, na Grécia Antiga foi com a Guerra de Peloponeso, Napoleão marcou outra cisão, e posteriormente, o Congresso de Viena que foi destruído após um século com a Primeira Guerra Mundial. O fato de ser o fim de um ciclo e o início de outro não significa exatamente o caos e a guerra, mas se a deterioração for mal administrada, a catástrofe poderá surgir.

A ascensão e queda de grandes potências determina a viabilidade da ordem predominante, uma vez que mudanças na força econômica, na coesão política e no poder militar moldam o que os estados podem e estão dispostos a fazer.

Durante a segunda metade do século XIX e o início do século XX, uma poderosa Alemanha unificada e um Japão moderno cresceram, o Império Otomano e a Rússia czarista declinaram, e a França e o Reino Unido ficaram mais fortes, mas não fortes o suficiente. Essas mudanças subverteram o equilíbrio de poder vigente até então.

Demandas populares por participação democrática em algumas regiões e surtos de nacionalismo em outras, ameaçavam o status quo dentro dos países, enquanto novas formas de transporte, comunicação e armamentos transformavam a política, a economia e a guerra nesse período, e a maioria desses fatores podem ser vistos hoje.

A maior lição que a história ensina é a que o processo de deterioração do sistema muitas vezes não é evidente para os tomadores de decisão até que tenha avançado consideravelmente a ponto de estar sem freio. Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, quando se tornou óbvio que o Congresso de Viena não existia mais, era tarde demais para salvá-lo, ou mesmo administrar sua dissolução.

Os sinais de que a ordem vigente está para mudar são diversos: a ascensão da China; o aparecimento de várias potências médias, algumas deias que rejeitam a ordem vigente (Irã e Coréia do Norte); o fortalecimento de atores não estatais, entre eles, traficantes de drogas, armas e grupos terroristas; o uso da tecnologia em muito mais mãos do que nunca, incluindo uma variedade de grupos e pessoas com a intenção de interromper a ordem; o nacionalismo e o populismo que já são uma ameaça real; maior desigualdade dentro dos países e o aumento dos fluxos de migrantes e refugiados, enquanto já se torna evidente a inépcia de alguns governos e atores não estatais em lidar com tantas mudanças.

Para tentar evitar um rompimento traumático, a ONU deveria dar mais voz as potências médias, o que é impossível de se pensar nos dias de hoje pois quem a financia é justamente quem nao quer ter redução de sua esfera de influência; a Europa repensar suas políticas fiscais para evitar uma implosão; os Estados Unidos mostrar moderação e recuperar um grau de respeito para recuperar sua reputação de ator benigno; os Estados Unidos e a OTAN parar de invadir outros países e fazer uso de sanções, tarifas e bases militares para impor suas vontades; e o mais importante de tudo, aceitar que o multilateralismo é irreversível e benéfico para todo o planeta.