A sociedade está morta!

A sociedade brasileira está morta, e nós a matamos!

 

Parafraseando a frase de Nietzsche “Deus está morto” e a ideia por trás dela, hoje, quem morre é a sociedade brasileira.

Em 1882 em A Gaia Ciência, o filósofo alemão usou essa frase para alegar que a influência da religião era cada vez menor na sociedade de sua época, as pessoas procuravam um hospital e não a igreja quando adoeciam, por exemplo. Não só a religião em si, como também, as crenças e os valores metafísicos do cristianismo como um todo, portanto, Nietzsche usou essa frase polêmica para atrair atenção a um debate de se questionar se ainda seria válido para a sociedade basear sua vida nesses conceitos bíblicos, já que a população estava cada vez mais racional.

Pois bem, se “Deus está morto” prenunciava a aurora do uso da racionalidade e métodos científicos, agora em 2019, digo que “a sociedade brasileira está morta”, como prelúdio do assassinato da sensatez.

Há alguns anos, desde os repetidos escândalos noticiados diariamente nos jornais, a população passou a inferir que tudo era culpa do partido no poder, o que não está errado, sua parcela de culpa é infinitamente maior, porém, atribuir somente a um partido todo um sistema corrupto de compra e venda de votos é demente, afinal, se há compra e venda, há dois ou mais agentes na transação, e ficou mais do que claro que quase todos os partidos estavam na outra ponta do processo.

E então, o começo da irracionalidade começou, nas eleições seguintes, somente o PT perdeu, enquanto PSDB e PMDB com imensos casos de corrupção, só se fortaleciam. A irracionalidade virou histeria com as eleições de 2018.

De repente, tudo que era associado a esquerda ou até mesmo ao centro virou comunismo, logo, deveria desaparecer. Uma das sociedades mais ignorantes do mundo (no sentido de não conhecer o contexto em que está inserida e de nível de educação) passou a se achar mestre do conhecimento. Tentando ensinar sobre nazismo aos alemães, fascismo ao mundo e associando todo país que tenta usar o “Estado de bem estar social” com socialismo.

Com a demonização do outro, as redes sociais foram palco de ódio de todos os lados, e os ditos “gurus” diziam abertamente que se perdessem a eleição tudo estaria acabado, a ditadura e a morte das liberdades eram iminentes. Ignoravam o fato que mesmo com 90% de aprovação, o governo PT nunca tentou algum tipo de golpe ou mudança na constituição para se perpetuar no poder, ignoravam também, que o candidato tido como libertador era justamente quem sempre apoiou abertamente ditaduras, grupos de extermínios e afins.

Com o êxito em transformar eleições em guerra santa, a racionalidade agonizou, quando algo é transformado em bem e mal, Deus e Diabo, tudo é válido, tudo é por um bem maior. Dados empíricos, fatos e conhecimento científico não cabem em um cenário como esse. Quem se preocupa com análises quando o inferno é logo ali?

Pós eleições, quando o natural seria acalmar os ânimos, a sociedade que respirava sob aparelhos faleceu. Com o holofote do poder e as suspeitas de corrupção, os eleitores do Bolsonaro que mais parecem uns Jihad (lutadores armados de extremistas islâmicos contra “infiéis”, ou seja, quem não é islâmico ou mesmo islâmico, não é extremo como eles) enlouqueceram. Não aceitam o fato da mídia noticiar assuntos contrários a seu líder, e atacam toda e qualquer pessoa ou imprensa que o faz, ainda que tenha consistência, o benefício da dúvida desapareceu.

Se não há espaço para duvidar, questionar, debater, não há mais liberdade. Se toda denúncia for posta em cheque por uma comparação sem sentido com o governo anterior, a democracia também se vai. Se somente quem vota em um político pode falar algo pejorativo sobre ele, a oposição sucumbe e nada sobra. A base da democracia e valores ocidentais que tanto dizem defender não existe no cenário que tanto desejam.

O enterro da sociedade brasileira se dá quando seu Presidente ironiza o fato de um rival político seu anunciar que sairá do país por medo de ameaças, pior ainda, é não admitir quando viu que pegou mal mesmo quando estava evidente a mensagem. A twittada veio minutos depois de seu filho rir dessa situação e um bom tempo depois em que ele já tinha comemorado a viagem a Davos, sua desculpa para o twitte.

Sim, o presidente sofreu uma tentativa de assassinato e isso deve ser investigado até o fim, mas não faz sentido tratar os dois assuntos como excludentes, como se apoiar um automaticamente te fizesse cumplice do outro.

Como o exemplo vem de cima, a sociedade como um todo está comemorando e duvidando das ameaças, mesmo quando o partido desse mesmo parlamentar teve um membro assassinado há menos de um ano e outro vem sofrendo ameaças e planos interceptados por policiais diversas vezes, planos esses que envolvem a morte até de seu filho.

Desembargadores ameaçam por redes sociais, pessoas letradas e estudadas acham positivo essa saída, empresários apoiam. Não há mais diferença entre público e privado, entre pessoa pública com imensa responsabilidade social e um cidadão comum, entre uma pessoa com um grau escolar invejável e um analfabeto, está tudo nivelado por baixo.

A Idade das Trevas é aqui, é agora.