Reflexões da Quarentena 1 – Hobbes e a retomada da economia

Para os iludidos que acham que caso o governo mande todo mundo trabalhar a economia voltará a ser o que era, vale relembrar o clássico: Thomas Hobbes.

Ele argumentava que a falta de um Estado que tutele o cidadão, leva a uma igualdade aproximada que gera uma “guerra de todos contra todos”. “Todos são iguais no ‘medo recíproco’, na ameaça, que paira sobre a cabeça de cada um. Os homens ‘igualam-se’ neste medo da morte.”

A falta do Estado no sentido de Estado protetor, que crie as condições necessárias para haver os Contratos Sociais que inibam essa sensação de “o homem ser o lobo do homem”. Essa anarquia que é pensada geralmente em períodos de guerras, é claramente vista em cenários pandêmicos.

Em “O Leviatã” ele argumenta melhor sobre esse cenário: “Portanto tudo aquilo que é válido para um tempo de guerra, em que todo homem é inimigo de todo homem, o mesmo é válido também para o tempo durante o qual os homens vivem sem outra segurança senão a que lhes pode ser oferecida por sua própria força e sua própria invenção. Numa tal situação não há lugar para a indústria, pois seu fruto é incerto; consequentemente não há cultivo da terra, nem navegação, nem uso das mercadorias que podem ser importadas pelo mar; não há construções confortáveis, nem instrumentos para mover e remover as coisas que precisam de grande força; não há conhecimento da face da Terra, nem cômputo do tempo, nem artes, nem letras; não há sociedade; e o que é pior do que tudo, um constante temor e perigo de morte violenta. E a vida do homem é solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta”.

Considerando que pesquisas apontam que o apoio ao isolamento social fica entre 60 e 70%, ainda que o comércio seja aberto, o dano está feito, a economia está seriamente danificada. Essas pessoas não vão levar uma vida normal, vão praticar seu próprio isolamento e evitar aglomeração enquanto sentirem que suas vidas estão em risco…

Ele atribui a este desejo o nome de instinto de conservação. A igualdade dos homens no estado de natureza da teoria de Hobbes é a igualdade no medo, pois a vida de todos fica ameaçada. Esta igualdade é na capacidade de um destruir o outro. Nem o mais forte está seguro, pois o mais fraco é livre para usar de todos os artifícios para garantir seus desejos e sua vida.