Crise política e protestos na Indonésia
O presidente da Indonésia, Joko Widodo, negou categoricamente as sugestões de que seu governo está tentando estender seu mandato e adiar as eleições presidenciais de 2024, após meses de sugestões nesse sentido de figuras políticas importantes. Ele ordenou a seus ministros que informassem ao público que o calendário para a próxima eleição presidencial havia sido definido e não mudaria. “Isso precisa ser explicado para que não haja rumores circulando entre as pessoas de que o governo está tentando adiar a eleição ou especulações sobre a extensão do mandato do presidente ou um terceiro mandato relacionado”, disse Jokowi. Ele acrescentou que seu governo “concordou que a eleição será realizada em 14 de fevereiro de 2024”.
Rumores
Nos últimos meses, políticos de alto escalão fizeram propostas controversas para estender o mandato do líder indonésio adiando as eleições de 2024 ou alterando a Constituição para permitir que ele concorresse a um terceiro mandato. Sob uma proposta, os atuais mandatos dos poderes executivo e legislativo do governo, tanto em nível nacional quanto local, seriam estendidos por mais três anos.
Os principais apoiadores da proposta foram ministro do Investimento, da economia, os chefes de três partidos da coalizão governista e até a organização muçulmana de massa Nahdlatul Ulama, que já foi citada aqui em alguns episódios do Asean News, também apoia a ideia. Mas o maior apoiador e que publicamente tem dado entrevista favoravelmente ao adiamento é o Ministro Coordenador de Assuntos Políticos, Jurídicos e de Segurança, Luhut Binsar Pandjaitan, político, empresário, general aposentado e influente na política local.
O presidente vem tentando desfazer o mal estar social que vem abalando a credibilidade do sistema democrático relativamente bem-sucedido, embora imperfeito, que foi estabelecido após o colapso da Nova Ordem autoritária de Suharto em 1998. O limite presidencial de dois mandatos foi uma peça central da primeira emenda à Constituição indonésia em 1999, um ano depois que o ditador Suharto foi derrubado por massivos protestos pró-democracia, um regime violento, corrupto e com inúmeras denúncias de abusos de Direitos Humanos, o que ajuda a trazer mas lembranças à população
Defesa
Os defensores da ideia afirmam que, devido ao impacto da pandemia de COVID-19 e ao plano ambicioso e bilionário de Jokowi de construir a nova capital, ele merece mais tempo para colocar a economia do país em ordem. Curioso é que se isso acontecesse, eles também seriam beneficiados com os mandatos estendidos.
Protestos
Manifestantes marcharam no dia 12 de abril contra o adiamento das eleições de 2024, os protestos prosseguiram apesar da garantia do presidente Joko Widodo de que não tem intenção de permanecer no cargo além do limite de dois mandatos da Constituição.
A polícia indonésia usou gás lacrimogêneo e canhões de água para dispersar centenas de estudantes que protestavam na capital Jacarta, eles estavam indo em direção ao Parlamento para reclamar também do aumento do preço de bens como combustível e óleo de cozinha, “Exigimos que os legisladores não traiam a constituição do país ao emendá-la”, disse um organizador do protesto “Queremos que eles ouçam as aspirações das pessoas.”
Jacarta post
O Jacarta post, um dos maiores jornais do país, se posicionou fortemente contra essa ideia, editor sênior do jornal, Endy Bayuni, argumentou que a sugestão reflete uma “mentalidade perigosa que, se for permitida a se desenvolver, seria uma receita certa para o fim da democracia e um retorno ao autoritarismo”.
Ele acrescentou: “Mesmo que a campanha para adiar as eleições de 2024 vacile, o fato de estarmos tendo essa conversa mostra mentes subversivas perigosas trabalhando entre alguns dos principais líderes políticos do país”.
Parlamento
Os rumores geram apreensão pois Jokowi formou uma larga coalizão nacional, nove partidos estão no governo incluindo o general que foi vencido na última eleição, Jokowi inclusive lhe deu o cargo de ministro da Defesa, apenas dois partidos estão na oposição. Ou seja, apenas a população demonstrando insatisfação nas ruas pode ser um impeditivo para tal.
O governo controla mais de 80% dos assentos na Câmara dos Deputados, mas o partido político que ele representa rejeitou a prorrogação, assim como vários outros, dificultando, mas não impossibilitando, as chances de aprovação de tal emenda, dizem analistas.
Seria necessário um acordo político significativo para facilitá-lo, mas o fato de algumas figuras políticas continuarem a abordá-lo sugere que a proposta ainda não está morta na água.
A eleição de Jokowi em 2014 foi saudada como um triunfo democrático, dada a sua imagem limpa de ‘homem do povo’ e a aparente falta de laços com a elite militar e política do país além de ser o primeiro presidente eleito sem ser militar.
Histórico
Após as eleições em abril de 2019 que deram vitória para o atual presidente Widodo, o perdedor e ex-general Prabowo Subianto rejeitou o resultado e clamou por manifestações que exijam “poder popular”. Em poucas horas e violência eclodiu nas ruas deixando cerca de oito mortos. Coordenadamente, reportagens falsas e boatos na internet começaram a surgir alegando que a “polícia da China havia entrado no país para defender seu povo”.
Nesse ano, a etnia correspondia por cerca de 3 milhões dos 260 milhões de pessoas do país. Os chineses são uma minoria dupla, não apenas são etnicamente diferentes, mas também tendem a ser cristãos ou budistas, o que os diferencia da grande maioria dos indonésios, que são muçulmanos.
Um boato em particular, que continha uma foto de policiais mascarados e de pele clara, afirmou que a China tinha enviado forças de segurança para a Indonésia disfarçados de trabalhadores estrangeiros. “Nunca vimos algo assim antes em volume, gravidade e coordenação”, disse o co-fundador de uma organização local que luta contra notícias falsas.
Esses problemas étnicos em particular já foram explicitados aqui.
E a importância geopolítica do país, principalmente para a China aqui.
Referencias
https://www.reuters.com/world/asia-pacific/talk-extended-jokowi-term-puts-indonesia-democratic-resilience-under-spotlight-2022-03-17/
https://apnews.com/article/business-joko-widodo-indonesia-jakarta-elections-4e4bfb0454e46c122fd2ecbf0c095947
https://thediplomat.com/2022/04/in-indonesia-protesters-march-against-mooted-delay-to-2024-election/
https://thediplomat.com/2022/04/indonesias-jokowi-denies-plan-to-extend-his-term-beyond-2024/
https://www.thejakartapost.com/opinion/2022/03/06/dangerous-subversive-minds-behind-talks-to-delay-elections.html
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