A visita do Ministro de Relações Exteriores da China na ASEAN
Em um esforço para estreitar laços com o sudeste asiático, a China enviou seu principal diplomata para a região, o Ministro das Relações Exteriores, Wang Yi. Ele conversou com o enviado especial do presidente da Indonésia, o secretário de Relações Exteriores das Filipinas e visitou fisicamente Camboja , Malásia, Laos , Tailândia e Cingapura .
Segundo nota oficial, as conversas tiveram como norte a cooperação regional antipandêmica, está é a primeira viagem de Wang aos países do Sudeste Asiático desde o começo da covid19.
Segundo ele, o giro foi produtivo: “Trocamos pontos de vista e chegamos a uma série de consensos sobre questões importantes, como a resposta conjunta ao desafio da pandemia COVID-19 e a evolução da situação internacional, aprofundando as relações bilaterais, mantendo a paz e estabilidade regional e melhorando o sistema de governança global”
A China, disse Wang, continuará a ajudar os países da ASEAN a prevalecer sobre a pandemia, incluindo o fornecimento de materiais anti-epidêmicos necessários, realizando cooperação em vacinas, auxiliando no estabelecimento de laboratórios de teste de ácido nucleico, apoiando a ASEAN no lançamento de um fundo para combate ao vírus e estabelecendo repositórios para suprimentos médicos de emergência.
De acordo com Wang, os países do Sudeste Asiático elogiaram a pesquisa e o desenvolvimento de vacinas da China e expressaram a esperança de conduzir uma cooperação em todas as dimensões com a China em pesquisa e desenvolvimento, compra, produção e uso de vacinas. Sobre a questão da vida e saúde de toda a humanidade, a comunidade internacional deve cooperar entre si, disse ele, acrescentando “Não devemos lutar sozinhos, muito menos monopolizar os recursos”.
Camboja
O primeiro-ministro do Camboja, Hun Sen, reuniu-se na segunda-feira com o Wang Yi e ambos prometeram aprofundar a cooperação mutuamente benéfica em todas as áreas. Wang disse que, como “um velho amigo” e “um verdadeiro amigo” dos líderes e do povo chineses, a visita de Hun Sen a Beijing em fevereiro, em meio aos esforços da China para combater o surto da COVID-19, compôs um importante capítulo da cooperação amigável China-Camboja. Lembrando que o episódio foi polêmico, pois aconteceu no começo do surto enquanto pouco se sabia e praticamente todos os países do continente estavam fechados.
Wang disse que escolher o Camboja como a primeira etapa de sua viagem pelo Sudeste Asiático refletiu não apenas o apoio mútuo tradicional, mas também o impulso de construir uma comunidade com um futuro compartilhado entre os dois países e parabenizou o país pela boa resposta ao surto, com poucos casos e mortes.
Ele disse estar pronto para ajudar no desenvolvimento adequado às suas próprias condições nacionais, salvaguardando a soberania e a dignidade nacionais e perseguindo suas próprias políticas internas e externas. em uma provocação clara à interferência europeia que sancionou o país. Hun Sen disse que o Camboja continuará a salvaguardar a paz e a estabilidade regionais e globais, e se oporá à política de poder e ao bullying. Ambos os lados também trocaram opiniões sobre questões internacionais e regionais de interesse comum e testemunharam a cerimônia de assinatura do acordo de livre comércio China-Camboja.
o porta-voz do Ministério do Comércio, Seang Thay, disse que a China concederá um status de isenção de tarifas cobrindo cerca de 98% de suas importações do Camboja, enquanto até 90% das exportações da China para o Camboja estariam isentas de tarifas. As exportações cambojanas abrangidas são principalmente agrícolas. A China é o principal mercado de arroz, manga e banana do Camboja. O acordo visa transferir o que o país exportava para a Europa.
Embora a visita sinalize o aprofundamento dos laços China-Camboja, ela também ocorre quando Phnom Penh teme se tornar um terreno para a competição EUA-China. Também há fortes suspeitas, principalmente de Washington, de que o Camboja concedeu à China o direito de usar uma base naval estratégica em seu território no Golfo da Tailândia. Autoridades cambojanas e chinesas negam que haja tal acordo.
Malasia
China e Malásia concordaram em aprofundar ainda mais a cooperação dos dois países contra a pandemia do coronavírus. De acordo com Wang, a China e a Malásia alcançaram uma série de consensos em uma ampla gama de questões, incluindo o fortalecimento da cooperação bilateral, a luta contra a COVID-19 e a manutenção da paz e estabilidade no Mar do Sul da China, entre outros.
Ambos os países concordaram em fortalecer a coordenação estratégica e levar a parceria estratégica abrangente China-Malásia a um nível mais alto, disse Wang durante uma conferência de imprensa conjunta com seu homólogo malaio após a reunião bilateral.
Enquanto isso, ambos os lados concordaram em explorar o estabelecimento de três canais importantes, incluindo uma via rápida para viagens essenciais, uma via verde para o movimento de mercadorias e uma linha de vida para o transporte de alimentos, a fim de manter as cadeias industriais e de abastecimento abertas e suavizar e garantir a segurança de suprimentos estratégicos críticos, disse ele.
Acordaram também em acelerar a cooperação de Belt and Road, construir uma economia mundial aberta e avançar a cooperação China-ASEAN, e como não poderia deixar de ser, afirmaram que a cooperação e a paz nos mares são primordiais. Wang também teve uma reunião virtual com o primeiro-ministro da Malásia, Muhyiddin Yassin, que está atualmente em quarentena doméstica.
Yassin disse que a Malásia considera a China um parceiro importante para a cooperação, e as relações bilaterais têm feito progressos significativos nos últimos anos com o aprofundamento da cooperação nos setores econômico, social, cultural, de defesa e outros.
Laos
De acordo com Wang, os dois lados concordaram em melhorar a comunicação estratégica, trabalhar em conjunto para promover a construção de uma comunidade com um futuro compartilhado entre os dois países e acelerar a cooperação bilateral no campo econômico.
Wang Yi disse que a China e o Laos são vizinhos amigáveis, ligados por montanhas e rios, bem como camaradas e irmãos que trabalham juntos pela causa socialista. Ele se comprometeu a continuar fornecendo os equipamentos e outros materiais essenciais para o combate ao COVID-19, além de oferecer acesso prioritário à vacina.
O Ministro expressou sua vontade de continuar a cooperação, de conceder tratamento de tarifa zero para a maioria dos produtos e de fortalecer a coordenação conjunta em questões regionais. Ambos os países devem transformar a crise atual em uma oportunidade, acelerar a cooperação no âmbito da Belt and Road Initiative e aproveitar os principais projetos, como o Corredor Econômico China-Laos e a ferrovia China-Laos
Tailandia
Em visita a Bangkok, Wang Yi oferece investimento e apoio econômico, incluindo a integração do Corredor Econômico Oriental com o Belt and Road. O governo chinês está pronto para permitir uma expansão dos investimentos na Tailândia e conectar a área da Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau (GBA) com o Corredor Econômico Oriental (CEE) do governo tailandês, afirmou o chanceler chinês Wang Yi nesta quinta-feira.
A GBA é uma megalópole, também conhecida como Zona Econômica do Delta do Rio das Pérolas, que consiste em nove cidades e duas regiões administrativas especiais no sul da China. O chamado Corredor Econômico Oriental (EEC) é o principal programa do regime militar da Tailândia, uma tentativa de alavancar investimentos do Japão e de gigantes da tecnologia chineses como a Alibaba e a Huawei para reavivar uma economia que cresceu 4,1% no ano passado, a mais lenta taxa no emergente Sudeste Asiático.
Os países concordaram em criar “vias rápidas” e “vias verdes” para facilitar o fluxo de pessoas e bens. Outras áreas-chave da cooperação de investimento que a Tailândia e a China estão desenvolvendo em conjunto são as tecnologias digital, big data e 5G e o desenvolvimento da economia digital.
Com relação à cooperação regional, Wang disse que a China está disposta a trabalhar com a Tailândia sob a estrutura da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) para fechar o negócio da Parceria Econômica Abrangente Regional (RCEP) ainda este ano.
Cingapura
Este ano marca o 30º aniversário do estabelecimento de laços diplomáticos entre China e Cingapura, o encontro de Wang Yi foi com o Ministro de Relações Exteriores,Vivian Balakrishnan. Ambos concordaram em fortalecer ainda mais a cooperação pós-pandemia e que esperam que o comércio e o trânsito de pessoas entre os dois países voltem o quantos antes.
A China está disposta a trabalhar com Cingapura para melhorar a cooperação bilateral e trilateral no desenvolvimento de vacinas COVID-19 e promover a construção de uma via rápida para trocas pessoais e uma via verde para logística, disse Wang. Os dois lados também concordaram em fazer um esforço conjunto para salvaguardar o multilateralismo, pressionar pela solidariedade da comunidade internacional no combate ao novo coronavírus e fortalecer o relacionamento entre a China e a Associação das Nações do Sudeste Asiático.
Indonésia
China e Indonésia prometeram fortalecer a cooperação na vacina COVID-19 durante conversas entre o Conselheiro de Estado Chinês e Ministro das Relações Exteriores Wang Yi e Luhut Binsar Pandjaitan, enviado especial do presidente indonésio e Coordenador do país para Cooperação com a China.
Dizendo que a cooperação de vacinas é o foco atual da cooperação anti-epidêmica bilateral, Wang disse que a China está disposta a trabalhar com a Indonésia para promover de forma abrangente a pesquisa e o desenvolvimento, a produção e o uso da vacina, e contribuir conjuntamente para a disponibilidade e acessibilidade das vacinas em a região e o mundo.
Alegou que acelerar a construção conjunta de Belt and Road é uma arma poderosa para conter o impacto da pandemia. A cooperação do Belt and Road entre a China e a Indonésia resistiu ao teste da pandemia e se tornou uma “âncora de estabilidade” para a cooperação entre os dois países.
Observando que este ano marca o 70º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas China-Indonésia, Wang expressou a esperança de que os dois países devem fortalecer a cooperação em áreas como comércio eletrônico, inteligência artificial, bem como intercâmbio cultural e interpessoal.
Disse que os dois países devem desempenhar um papel de liderança na defesa da equidade e da justiça, mantendo o multilateralismo e a democratização das relações internacionais e salvaguardando os interesses comuns das economias emergentes. A Indonésia de ser a quarta maior economia do mundo até 2050 e é um líder natural da ASEAN devido ao seu tamanho e peso econômico.
Filipinas
Nas Filipinas, o encontro foi com seu homólogo, Teodoro Locsin, eles disseram que China e Filipinas devem permanecer amigas permanentes, independentemente de quaisquer mudanças na situação internacional. Yi chamou as Filipinas de boa amiga em total conformidade com os interesses e esperanças fundamentais dos dois povos.
Ele acrescentou que a China continuará a apoiar firmemente as Filipinas em sua luta contra a pandemia até a vitória final, além de fornecer todos os recursos anti-COVID-19 necessários e compartilhar experiências no combate à pandemia.
Observando que os dois lados acumularam muita experiência útil no tratamento adequado da questão do Mar da China Meridional, Wang espera que os dois lados continuem a administrar as diferenças por meio do diálogo e da cooperação, para ele, ambos os países também devem arquivar as disputas para evitar afetar o momento duramente conquistado de melhoria e desenvolvimento das relações bilaterais.
E fechou alegando que seu país está disposto a trabalhar com as Filipinas para promover a consulta sobre o Código de Conduta (COC) no Mar da China Meridional e chegar a um acordo antecipado sobre regras regionais eficazes reconhecidas conjuntamente, tanto pela China, como pela ASEAN para mostrar ao mundo que a região tem capacidade e soberania suficientes para manter a paz e a estabilidade no sul do continente.
Conclusão
Apesar de discursos diplomáticos e protocolares, algumas especificidades escaparam nas viagens do ministro chinês. A diplomacia é a arte de falar sem dizer, como diria o escritor Karl Kraus: “A diplomacia é um jogo de xadrez em que os povos levam xeque-mate.
A sutiliza está nos detalhes, como frisar que vai suprir a demanda de exportações do Camboja, depois que a Europa retirou o país das benesses do seu programa “Tudo Menos Armas (EBA)”, apontar a necessidade de voltar ao movimento humano e de comércio com Cingapura, lembrar ao Laos a importância dos investimentos chineses no país, falar aos filipinos que os países são amigos permanentes, recentemente o ministro filipino andou cutucando a China em relação aos mares.
Aproveitar de um momento de extrema fragilidade do regime militar tailandês para que a China possui a chave do cofre que pode ajudar a economia a sair do buraco em um projeto que é a marca desse governo. E por fim, demonstrar que reconhece o peso e a importância da Indonésia e a Malásia, nesses dois países Wang Yi foi enfático em dizer que a região precisa resolver seus problemas internamente e rapidamente ao mesmo tempo em que lembrou da importância dos investimentos do BRI para seus vizinhos.
Referências
https://www.bangkokpost.com/business/2002811/thailand-warms-to-chinas-ventures
http://portuguese.xinhuanet.com/2020-10/13/c_139436809.htm