As maiores ameaças à China: ela e ela mesma!

 

A China já está consolidada como superpotência mundial, não apenas por seus índices econômicos, mas também por seu extenso território e censo demográfico tornando quase impossível um domínio estrangeiro, bem como sua capacidade militar de ataques. Isso sem mencionar seu “soft power” muito bem engendrado com Rússia e Irã. Devido à essa combinação de fatores, para muitos especialistas o único perigo para a hegemonia chinesa é ela mesma: as demandas de suas recém criadas classes sociais.

A classe média chinesa que ganha mais de US$ 20 por dia, e representa hoje mais de 110 milhões de pessoas, enquanto a classe baixa, que são aqueles que ganham menos de US$ 20 por dia, representa 90% da população.

A classe média, apesar de recente e muito grata ao sistema unipartidário chinês, não deixa de ser uma classe média, ou seja, um grupo de pessoas adeptas ao capitalismo, possuidora de poder aquisitivo, um padrão de vida de consumo e anseios em bens materiais e não materiais, como entrar em contato com outras culturas e outras formas de convívio social através de universidades de ótimas qualidade, férias e passeios.

Eles estão vendo com muita preocupação as recentes quedas no PIB (ainda que sejam gigantescas frente ao restante do planeta) e a guerra comercial com os EUA. Os resultados já são vistos na economia, as pessoas estão gastando e saindo menos, os investimentos em infraestrutura despencaram e os salários ficaram estagnados. Caso haja uma crise mais grave, não há dúvidas de que esse seria o primeiro setor da sociedade chinesa a se levantar contra o sistema e pedir por mais liberdade em seu sentido mais amplo, incluindo a democracia.

Por outro lado, há o grupo chamado de “Jovens Marxistas”, que ao mesmo tempo em que se espelham no próprio Partido Comunista Chinês, pode ser um grande problema para ele. O grupo foi criado por jovens ativistas chineses que percorrem o interior do país para ensinar sobre o comunismo para seus compatriotas.

E como uma espécie de “comunismo ortodoxo”, ao visitar o interior do país e verem as péssimas condições de trabalho, que segundo eles mesmos, mais parecia o retorno do feudalismo do que “liberdade”, passaram a ensiná-los sobre como se organizar para pedir por um melhor tratamento, que o crescimento da economia seja proporcional ao crescimento da qualidade de vida dos trabalhadores e sobre o poder que tem o proletariado, e isso vai diretamente contra os interesses do governo, por mais irônico que seja. Os estudantes se dizem simpatizantes em parte do governo Mao e em parte do início do partido comunista.

Assim como a classe média, esse grupo em números reais, não é expressivo como ameaça para a imensa máquina estatal chinesa, mas não é assim que todo movimento começa? A recusa em dialogar com ambos não poderia criar uma bola de neve em um período turbulento de insatisfação coletiva?