Alemanha Pós-Merkel: Democracia em Xeque? Principais problemas internos e externos

Merkel deixará o cargo com popularidade alta, mas o seu partido, a conservadora União Democrata-Cristã (CDU), e o seu candidato, Armin Laschet, têm caído nas pesquisas de intenção de voto desde julho. Partido que perdeu somente 3 eleições desde os anos 50.

Democracia em xeque

Na Alemanha, os eleitores não votam diretamente no líder (lá, o chefe do poder Executivo recebe o título de chanceler). De acordo com o site Politico, que compila os dados das principais pesquisas de opinião, as sondagens mais recentes indicam que o SPD, de centro-esquerda, está na liderança com 25% da intenção de votos, enquanto a União cristã entre a CDU de Merkel e a União Social-Cristã (CSU), da Baviera, caiu para 21%. Os Verdes aparecem em terceiro com 17%, seguidos pelo liberal FDP (12%), a Alternativa para Alemanha, AfD, da direita nacionalista (11%) e A Esquerda (6%).

Acontece que essa pulverização de votos é algo raro na sólida e estável democracia alemã que sempre foi bipartidária com centro a centro direita vencendo quase sempre. Peculiaridades do sistema podem levar o Bundestag a abrigar mais de 900 deputados na próxima legislatura, em vez dos 709 atuais. Apenas o Congresso chinês, com quase 3 mil, é maior, com isso, o país de 299 distritos teria uma das maiores representatividades do planeta, o problema é que com 5 ou 6 partidos com consideráveis números de cadeiras, muitos temas podem ficar travados.

O conflito geracional também está em destaque, agendas muito divergentes nos principais temas como imigração e clima entre idosos e jovens, algo comum nos dias de hoje em quase todas as democracias. Com o peso econômico e de liderança de bloco da Alemanha nem é preciso dizer o quão problemático para todo o ocidente é um eventual colapso do sistema alemão.

Por que o Bundestag tem tantos deputados?

Quando os alemães votam em seus representantes a nível federal, eles não escolhem apenas de forma direta seu representante local para o Parlamento.  Há uma espécie de “segundo voto”, que conta para um partido e os candidatos que estão em sua lista. O objetivo é combinar os princípios do sistema majoritário e da representação proporcional. E também como uma forma de evitar que muitos votos sejam desconsiderados, como ocorre nesse tipo de votação distrital.

O sistema foi concebido no pós-guerra como um compromisso com os partidos menores, que temiam não conseguir conquistar assentos de forma consistente, juntamente com a preocupação com a instabilidade que havia surgido com a fragmentação política do pré-guerra.

Desde então, tanto o SPD como a CDU conquistaram facilmente a maioria dos votos e dos mandatos diretos nos distritos eleitorais sem precisar fazer muitas concessões para formar maioria. Mas com o Partido Verde, o A Esquerda , o Partido Liberal Democrático (FDP) e o de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) , o parlamento pode ficar bem confuso e novamente com o problema da fragmentação.

Nos últimos anos, o Partido Liberal Democrático, os Verdes e A Esquerda formaram uma aliança para fazer lobby por uma redução significativa no número de distritos eleitorais que são 299, a coalizão da Merkel aceitou diminui para 280 e nada mais do que isso, afinal, muita gente dos grandes partidos analisam que esse número de cadeiras pode beneficiá-los a continuar com a maioria e sempre há aquela questão de quais distritos serão cortados para tentar não beneficiar nenhum lado.

Os dois grandes desafios da Política Externa

UNIAO EUROPEIA

A abordagem de Angela Merkel de buscar compromissos entre interesses concorrentes é uma das principais fontes da imagem positiva de Berlim. O governo de Merkel reduziu o medo dos vizinhos do domínio alemão. A maioria dos europeus não acredita que um alemão chefiando a Comissão Europeia seja uma coisa ruim. E um número significativo confia em Berlim para liderar a UE, especialmente em questões financeiras e econômicas, democracia e Estado de direito.

Soberania estratégica: com a ascensão da China e a pressão dos EUA ao bloco, está cada vez mais comum nos debates públicos a pauta do continente ser mais soberano, incluindo militarmente.

A abordagem de Merkel de ficar em cima do muro não será mais viável, especialmente em vista do conflito entre os EUA e a China, que cada vez mais domina os assuntos mundiais. A Alemanha será forçada a estabelecer uma posição muito mais forte para si e para a UE neste conflito. Portanto, nos próximos anos, a liderança alemã na UE exigirá mais do que manter a unidade do bloco

A Alemanha terá que deixar sua zona de conforto em áreas nas quais não queria liderar nem era confiável para fazê-lo na era Merkel. Se a Alemanha pós-Merkel pretende alcançar a imagem de uma potência verdadeiramente europeia, terá de fornecer aos seus parceiros europeus ideias claras sobre o papel e as posições da UE num ambiente internacional cada vez mais competitivo e abalado pela crise.

Russia

A chanceler estabeleceu uma frente europeia comum após a anexação russa da Crimeia, uma de suas principais realizações de política externa, para da uma resposta a ação de Putin, mas comprometeu seu legado com seu apoio inabalável ao Nord Stream 2.

O Nord Stream 2 é um oleoduto russo que atravessa o Mar Báltico até a Alemanha e é a grande alternativa para o crescimento da economia alemã e a redução do preço do gás em toda a Europa que está em alta. A criação do projeto elevou tensões com os EUA, o então presidente Trump ameaçou impor sanções à Alemanha.

A aproximação entre Alemanha e Rússia é o grande temor dos EUA, que faz um grande lobby para melar o comércio entre ambos, o que desagrada parte da elite industrial alemã e é aprovada por parte da elite financeira que é mais alinhada aos interesses estadunidenses.

Equilibrar as forças internas e externas sobre essa aproximação com os russos será uma tarefa e tanto para o próximo chanceler. Por um lado, a necessidade do gás barato para continuar crescendo, por outro, ser ainda mais dependente de uma nação que representa valores que os alemães não aprovam.

 

Principais temas nos debates:

– Mudanças climáticas

– Proteção climática

– Imposto mínimo mundial para gigantes tecnológicas.

Principais problemas:

– Gasto publico

– Fragmentação politica

 

 

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