Momento do Comex #03, por Luis Maluf

Luis Gustavo Maluf – www.linkedin.com/in/luismaluf

 

PANORAMA GLOBAL – SETEMBRO/2024

 

ÁSIA

 

O mês de agosto foi um mês de estabilidade controlada nas rotas de importação Ásia x Brasil, ainda sobrecarregadas em diversos aspectos (falta de equipamentos e transbordos congestionados), mas já demonstrando sinais de alívio no que tange aos níveis de frete. Acompanhamos uma queda em relação ao pico de julho/24.

Podemos atribuir esse fato a algumas conjunturas específicas:

  • O uso de sistemas de compra eletrônicos no frete torna mais ágil a mensuração e a flutuação das tarifas, bem como o controle dos armadores sobre a ocupação dos navios;
  • Muitos importadores já finalizaram as compras de composição de fim de ano;
  • HUBs de Cingapura e Busan ainda congestionados, mas em situação menos crítica;
  • Tensão crescente no Oriente Médio se expandiu;
  • Expectativa sobre recuperação das economias na Zona do Euro, que timidamente torna-se positiva;
  • Expectativa sobre recessão nos EUA foi atenuada pela nova configuração eleitoral

 

Na atualização do quadro gráfico, tivemos um pico em 11/07 de USD 9.600,00, uma redução a USD 8.676,00 na média em 31/07 e USD 7.900,00 em 30/08.

 

O mês de setembro, tradicionalmente é o último mês onde reside uma pressão sobre o valor dos fretes de importação Ásia x Brasil. Temos um grande feriado na primeira semana de outubro (Golden Week) e muitos importadores tem em setembro a última oportunidade de importar a tempo de vender dentro do mesmo ano fiscal. A partir da segunda semana de outubro espera-se uma queda, ainda que gradual, dos níveis de frete e uma consequente acomodação do volume.

 

 

BRASIL

Os terminais dos principais portos brasileiros seguem sobrecarregados, com contingências diversas, desde climáticas (fechamentos temporários de portos no Sul como Paranaguá, Navegantes e Rio Grande) como práticas (congestionamentos de fila e falta de espaços / berços de atracação em Santos).

O resultado prático é o acúmulo de backlog nos terminais e nos “redex” de maneira a tracionar toda a logística interna, mas as constantes omissões de portos e alterações de deadlines/schedules vem apresentando um desafio secundário de tornar a exportação não tão previsível e refém de uma combinação de fatores críticos.

 

Exportadores brasileiros têm uma dura conjuntura lidarem em agosto:

 

Efeitos Positivos:

  • Câmbio extremamente favorável para exportadores – a cotação manteve uma média mais alta.

 

Efeitos Negativos:

  • Falta de equipamentos nos terminais;
  • Schedules ainda inconstantes nos maiores portos e terminais do país;
  • Rotas para Europa e Ásia estão mais confortáveis em disponibilidade de espaço, mas para os Estados Unidos e Américas em geral, a situação é crítica.

Nova rotação nos serviços MSC (CARIOCA Service) para atender Santos e Santa Catarina com melhor transit time. Abaixo rotação com o retorno de Itajaí e Imbituba para escalas regulares.

ESTADOS UNIDOS

 

A rota de exportação para os Estados Unidos mantém-se congestionada e enfrenta uma conjuntura ainda relevante no que tange à estabilidade e integridade dos schedules. Algumas causas fundamentais:

 

  • Ausência de um acordo com a ILA (Sindicato) dos terminais na Costa Leste e Golfo, com real ameaça de greve e paralisações de operações portuárias em 30/09/2024;
  • Obras no porto de Charleston – atraso médio de 7 dias nas atracações;
  • Conjuntura eleitoral que se mantém indefinida e, com isso, as políticas externa e cambial também.
  • Canal do Panamá – teve uma melhora nas condições gerais de abastecimento e trânsito, permitindo passagem de uma maior quantidade de embarcações.

A Newsletter de agosto da Xeneta – Welcome – XSI August 2024 (foleon.com) – nos permite também entender que um dos fatores primordiais de congestionamento nos EUA também é resultado de acúmulo de percepções de crises possíveis, por parte dos importadores locais:

  • Adiantamento do volume de importações devido ao agravamento do estado de crise em rotas fundamentais:
    • Crise do Mar Vermelho
    • Disrupções em Estados de regimes fracos (Bangladesh por exemplo) e que atuam como fornecedores
    • Ações do próximo governo em relação a guerras comerciais;
    • Agravamento da instalação de novas plantas no México.

 

E o impacto na exportação brasileira obedeceu a esta mesma lógica. Somado ao já citado estado de crise em nossos portos e terminais, o acúmulo de cargas gerou um descompasso enorme de backlog. Constantes e mensais GRIs e PSS permeiam a exportação para Américas.

 

 

EUROPA

 

A Europa voltou a apresentar crescimento econômico real na zona do Euro, deve terminar o ano em 1% e a expectativa de 2025 é de continuidade (EU economy will grow and inflation decline further, new forecast says – European Commission (europa.eu)). O avanço na atividade econômica trouxe fôlego aos importadores que ocuparam boa parte do capacity da Ásia.

A rota que servia Ásia ao Brasil via Europa foi bastante prejudicada pela prioridade às cargas europeias, ou seja, tivemos espaço retirado das rotas que nos serviam.

No entanto, a importação brasileira de cargas europeias (tradicionalmente de bom valor agregado) mantém-se em baixa, colocando os fretes em níveis bastante competitivos. Os fretes de portos diretos da Europa aos nossos principais portos mantém-se em níveis promocionais.