Momento do Comex #04, por Luis Maluf

Luis Gustavo Maluf – www.linkedin.com/in/luismaluf

 

 

PANORAMA GLOBAL – OUTUBRO/2024

 

 

ÁSIA

 

O mês de setembro foi um mês de estabilidade controlada (assim como agosto) nas rotas de importação Ásia x Brasil, que confirmou os sinais de alívio no que tange aos níveis de frete. Acompanhamos uma queda em relação aos meses anteriores. Apesar de alguns focos de pressão remanescentes (como Singapura , Busan e Hong Kong) ainda cheios pelos backlogs, estes não foram capazes de alterar a trajetória das tarifas. Na atualização do quadro gráfico, tivemos um pico em 11/07 de USD 9.600,00, uma redução a USD 8.676,00 na média em 31/07, USD 7.900,00 em 30/08 e USD 6.853,00 em 07/10.

 

Fonte: Xeneta

O mês de outubro marca o final  do peak season com a Golden Week e a maior parte da pressão industrial só retorna próximo ao Ano Novo Chinês em 2025. Devemos ter uma série de blank sailings nas próximas semanas (ainda não anunciados) mas não capazes ainda de alterar a trajetória de queda nas cotações, apenas de reduzir o ritmo destas quedas. Por outro lado teremos em 2025 a reconfiguração das alianças de navegação, fato este que causará uma reorganização no capacity disponível e alocações.

 

 

BRASIL

Os terminais dos principais portos brasileiros seguem sobrecarregados, com contingências diversas, desde climáticas (fechamentos temporários de portos no Sul como Paranaguá, Navegantes e Rio Grande) como práticas (congestionamentos de fila e falta de espaços / berços de atracação em Santos).

O resultado prático é o acúmulo de backlog nos terminais e nos “redex” de maneira a tracionar toda a logística interna, mas as constantes omissões de portos e alterações de deadlines/schedules vem apresentando um desafio secundário de tornar a exportação não tão previsível e refém de uma combinação de fatores críticos.

Exportadores brasileiros têm uma dura conjuntura lidarem em outubro:

Efeitos Positivos:

  • Câmbio extremamente favorável para exportadores – a cotação manteve uma média mais alta.

Efeitos Negativos:

  • Falta de equipamentos nos terminais;
  • Falta de janelas para recebimento dos contêineres cheios na exportação.
  • Schedules ainda inconstantes nos maiores portos e terminais do país;
  • Rotas para Europa e Ásia estão mais confortáveis em disponibilidade de espaço, mas para os Estados Unidos e Américas em geral, a situação é crítica.

 

 

 

ESTADOS UNIDOS

 

A rota de exportação para os Estados Unidos mantém-se congestionada e enfrenta uma conjuntura ainda relevante no que tange à estabilidade e integridade dos schedules. Algumas causas fundamentais:

 

  • Ausência de um acordo com a ILA (Sindicato) dos terminais na Costa Leste e Golfo resultou em uma curta paralisação, que em alguns dias manejou para backlog 5% do tráfico interamericano de Contêineres.
  • Conjuntura eleitoral que se mantém indefinida e, com isso, as políticas externa e cambial também.
  • Canal do Panamá – teve uma melhora nas condições gerais de abastecimento e trânsito, permitindo passagem de uma maior quantidade de embarcações.
  • Manzanillo no entanto segue sendo um hub congestionado devido à contingência de Manaus, fato este que impacta os navios que cruzam pelo canal rumo à Costa Oeste.

 

 

EUROPA

 

A Europa vive um avanço nos índices de produção industrial das maiores economias na Zona do Euro. O avanço na atividade econômica trouxe fôlego aos importadores que ocuparam boa parte do capacity da Ásia.

A rota que servia Ásia ao Brasil via Europa foi bastante prejudicada pela prioridade às cargas europeias, ou seja, tivemos espaço retirado das rotas que nos serviam. No entanto, a importação brasileira de cargas europeias (tradicionalmente de bom valor agregado) mantém-se em baixa, colocando os fretes em níveis bastante competitivos. Os fretes de portos diretos da Europa aos nossos principais portos mantêm-se em níveis promocionais.

 

Ponto de Observância Global – Riscos Geopolíticos

 

Ainda que os fatores macroeconômicos, separadamente, apresentem estabilidade e um cenário mais favorável ao que vivenciamos em todo o 2024, a influência da geopolítica desponta como o maior fator de risco e disrupção para as cadeias produtivas.

A conjuntura maior diz respeito ao conflito no Oriente Médio, que tem potencial de engajamento das grandes potências respaldando Israel e Irã respectivamente. É uma região estratégica para produção e embarque de petroleiros através do estreito de Hormuz :

Fonte: https://www.eia.gov/todayinenergy/detail.php?id=61002

 

Quase 1/3 do fluxo petrolífero mundial passa pelo Estreito de Hormuz, e os preços do Bunker serão diretamente afetados por uma eventual escalada do conflito.

 

Um conflito de maiores proporções não afetaria mais as rotas diretamente ligadas ao trânsito local, isso já foi precificado e os efeitos do fechamento das rotas via Mar Vermelho já foram assimilados. O que se entende é que com maiores riscos de disrupção há tendência de adição de transbordos e “safe spots” em hubs que permitam um remanejo das embarcações em caso de necessidade.

Poderíamos voltar a ter diversas opções de serviços e gradações de transit time. Mas ainda a verificar e dependente em absoluto do andamento da geopolítica do Oriente Médio.