Aukus, CPTPP e OCX – A Conturbada Semana das R.I.s
A semana foi agitada para quem acompanha a política internacional, em alguns dias grandes movimentações foram feitas no cenário global, repercutiremos aqui as 3 maiores delas:
Aukus
Aukus é o acordo militar entre EUA, Reino Unido e Austrália assinado essa semana, ele permitirá que a Austrália construa submarinos de propulsão nuclear pela primeira vez a partir de tecnologia americana e inglesa. Segundo o anuncio, a Austrália não poderá criar usinas nucleares, apenas importar dos dois países a energia para os submarinos.
Essa é a maior parceria no setor de Defesa entre eles desde a Segunda Guerra Mundial que resulta das preocupações nos últimos anos com a crescente presença militar da China na região do Indo-pacífico. A nova parceria busca “promover a segurança e a prosperidade” na região, afirma uma declaração conjunta dos respectivos líderes dos países que compõem o acordo.
Em reação, a embaixada da China em Washington acusou os países de “mentalidade de guerra fria e preconceito ideológico”. Um porta-voz da embaixada disse que as nações “não deveriam construir blocos de exclusão”. Outra nação que não gostou foi a França, o pacto significa que a Austrália abandonou um acordo de quase R$ 190 bilhões assinado com Paris em 2016, cujo objetivo era construir 12 submarinos não nucleares.
O contrato com a França sofreu atrasos devido à exigência australiana de que vários componentes fossem adquiridos localmente. Como resposta, Paris convocou os embaixadores franceses nos EUA e na Austrália para que prestem esclarecimentos sobre o acordo militar, o que na medida diplomática é algo grave. Como ficou de fora, a França perderá um bom dinheiro, o chanceler francês chamou o acordo de “facada nas costas”
O curioso é o dilema entre ideologia x economia que a Austrália tem passado com a ascensão chinesa, a China representa 40% das exportações de Camberra, enquanto Europa e América do Norte são regiões que mais exportam para Austrália do que importam.
Ou seja, a Austrália está colocando em risco o grande parceiro comercial em nome da ideologia e da sensação de perder o posto de maior potência na região. O volume maior do que enviam para a China é commodity, tirando o componente geográfico, todo o resto dá para fazer um comparativo com o Brasil, que também é chamado de “potência média” no Sistema Internacional.
Outro país profundamente preocupado é a Indonésia, o Ministério das Relações Exteriores observou com cautela a decisão da Austrália de adquirir os submarinos e disse estar “profundamente preocupada com a contínua corrida armamentista e projeção de poder na região”.
O presidente de uma aliança de pesca da ilha de Natuna, uma das contestadas dentro da questão do Mar do Sul da China, disse que os pescadores indonésios avistaram seis navios chineses, incluindo navios de guerra esta semana e também viram navios dos EUA regularmente: “estamos preocupados com a possibilidade de sermos apanhados no meio de uma guerra e de não ser seguro para nós procurar peixes”, disse ele.
E o mais grave e óbvio é que para acessar o conturbado mar do sul da china a Austrália teria que pedir passagem ou violar o espaço indonésio, colocando o país no centro do conflito aceitando ou não uma eventual passagem
*mapa de possíveis rotas para o Mar do Sul da China
CPTPP
Praticamente junto ao anuncio do Aukus, a China divulgou que está se candidatando oficialmente ao CPTPP. Para quem não lembra do que se trata, uma breve digressão.
A administração Obama criou o TPP (Trans-Pacific Partnership), uma iniciativa de acordo econômico com os países banhados pelo pacífico com a exclusão da China, a ideia era isolar Pequim. Com a chegada de Trump, o acordo foi jogado no lixo, um dos efeitos disso foi a criação do RCEP, encabeçado pelos países da Asean.
Em 2018 houve alguns embates sobre propriedade intelectual e compras governamentais e o TPP virou CPTPP (Comprehensive and Progressive Agreement for Trans-Pacific Partnership). Resumindo, o acordo seguiu entre todos os membros com exceção dos EUA. Há quem diga que o movimento de adesão chinês seja apenas simbólico e uma forma de demonstrar força diplomática já que Pequim possui acordos comerciais com quase todos os membros do bloco. Outro fator que pesa é que atualmente o Japão é o presidente rotativo, um dos países que mais possuem diferenças com Pequim e já declarou publicamente que vê problemas uma possível entrada de chinesa.
Ocx
A OCX (Organização de Cooperação de Xangai) é uma organização política, econômica e militar da Eurásia fundada em 2001 sob a liderança de Rússia e China. Ontem (17/09) o Irã foi incluído na organização.
Ainda que pouco repercutido na mídia ocidental, o anúncio tem um peso enorme, é mais um indicativo de que a tática de sancionar países desalinhados é cada vez menos efetiva e a aliança russo-chinesa tem um poder cada vez maior.
Com a adesão, o Irã fica ainda mais inserido em um contexto econômico asiático e da chamada Novas Rotas da Seda de potencial trilionário, pouco a pouco o país via contornando as sanções unilaterais feitas pelos EUA.
A televisão estatal iraniana descreveu a admissão da república islâmica ao grupo centro-asiático como forma de acesso a enormes mercados em todo o continente.
Em seu discurso proferido aos membros da organização, o novo presidente Raisi comparou sanções a atividades terroristas e exortou parceiros a elaborar um mecanismo para combatê-las.
Com isso, a nova gestão concretiza a política de voltar-se para o leste e abandonar o ocidente, a organização também é chamada “bloco antiocidental” ou “organização anti-otan”. O novo “eixo do mal” está cada vez mais coeso.
Conclusão
Aukus é um pacto militar com a mentalidade Guerra Fria, lidando com problemas complexos sob a ótica militar e da intimidação, o que acaba por ser a grande falha de Washington para lidar com o Leste Asiático.
Uma hegemonia global que não oferece nada aos emergentes e busca fortalecer laços apenas com membros já alinhados (para não dizer vassalos) está cada vez mais fora de contato com o mundo.
Enquanto isso, a China abraça o mundo emergente (cerca de 85% da população mundial e até 2050 será 7 da 10 maiores economias) oferecendo alternativas tangíveis do ponto de vista infraestrutural, econômico e de cooperação multilateral.
Como disse o presidente iraniano “a diplomacia só é eficaz quando todas as partes a exercem. Ameaças atam as mãos dos diplomatas e os tornam ineficazes”.
Referências
https://twitter.com/jpnicogabriel/status/1438508255865552905
https://www.reuters.com/world/asia-pacific/indonesia-warns-against-arms-race-after-australian-nuclear-sub-pact-2021-09-17/
https://thediplomat.com/2021/09/will-china-actually-join-the-cptpp/
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