Pesquisa geopolítica do sudeste asiático – Relatório de 2022

o ISEAS-Yusof Ishak, think thank de Cingapura publicou seu relatório anual de pesquisa do Estados do Sudeste Asiático, é um importante medidor anual sobre algumas questões políticas, sociais e econômicas já tradicional na região. A pesquisa deste ano entrevistou 1.677 formuladores de políticas, jornalistas, empresários e especialistas dos 10 países da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN).

Na pesquisa deste ano, 76,7% dos entrevistados concordaram que a China era a potência econômica mais influente na região, 1% acima do ano passado. 54,4% a classificaram também como o poder político e estratégico mais influente, acima dos 49,8% em 2021.

Por outro lado, quando perguntados sobre a potência mais confiável, o Japão liderou com 54,2%, embora esse número tenha diminuído significativamente dos 68,2% de um ano atrás, em segundo ficou os EUA com 52,8%, melhorando sua atuação em relação ao ano passado, que ficou com 47%. Os céticos em relação ao Washington também diminuiu, caiu de 31,1% para 29,6% de 2021.

Os números para a China foram quase o oposto. A maioria dos entrevistados (58,1%) expressou “pouca confiança” (33,3%) ou “nenhuma confiança” (24,8%) na China para “fazer a coisa certa” para contribuir para a paz, segurança, prosperidade e governança globais. Dos que expressaram desconfiança em relação à China, 49,6% expressaram medo de que a China pudesse usar o poder econômico e militar para ameaçar os interesses e a soberania de seu país. Quase um quarto disse que não considera a China “uma potência responsável ou confiável”.

os mais altos em Mianmar (88,8%, provavelmente devido ao apoio percebido da China ao golpe militar de fevereiro passado), Filipinas (82%), Cingapura (69,8%), Brunei (67,9%) e Vietnã (64,6%). No Camboja, por outro lado, a opinião foi muito mais positiva em relação à China, com 44,4% dizendo estar “confiante” e 29,6% “muito confiante” de que a China “faria a coisa certa” em suas negociações internacionais. De fato, o Camboja foi a única nação em que os níveis de confiança superaram os níveis de desconfiança.

Quando perguntados com qual poder eles se alinhariam hipoteticamente, 61,5% dos entrevistados em 2021 disseram que prefeririam se alinhar com os EUA, em comparação com 38,5% com a China. Nesse ano a diferença diminuiu, com 57% expressando preferência pelo alinhamento com os EUA em vez de 43% para a China. Mas o mais significativo foi que apenas 11,1% dos entrevistados disseram que a ASEAN deveria tomar parte de alguma forma no conflito. mais de 70% dos entrevistados disseram que o bloco do Sudeste Asiático era “lento e ineficaz e, portanto, não pode lidar com desenvolvimentos políticos e econômicos fluidos”

Isso também reflete em parte a diminuição das tensões entre China x EUA da era Trump, os três principais desafios enfrentados pelo Sudeste Asiático, conforme registrado pelos entrevistados da pesquisa, foram os desafios de saúde do COVID-19 pandemia (75,4%), seguido de desemprego e recessão econômica (65,5%) e mudanças climáticas (37%).

A maioria dos entrevistados (57,8%) expressou a opinião de que, das várias potências externas, a China deu à ASEAN o mais forte apoio à vacina COVID-19, seguida a uma distância considerável pelos EUA (23,2%) e ainda mais distante pela Austrália ( 4,7%), Japão (4,1%), Índia (3,6%) e União Europeia (2,6%).

A nova pesquisa também coloca os EUA em uma posição de liderança por sua liderança na defesa do livre comércio global e na defesa da ordem baseada em regras. A participação dos EUA aumentou de 19,7% para 30,1%, ultrapassando a UE, a antiga campeã do livre comércio global.  A liderança dos EUA na manutenção da ordem baseada em regras e na defesa do direito internacional também cresceu de 24,5% para 36,6%. Isso é reflexo de aspirações e discursos mais do que qualquer dado real, afinal, se tem algo que o imperialismo faz quando está em crise é detonar os mecanismos criados por eles mesmos (Ler Jose Luis Fiori para entender melhor essa tese)

O governo Biden realizou várias visitas bilaterais de alto nível ao Sudeste Asiático, incluindo a vice-secretária assistente Wendy Sherman, o secretário de Defesa Lloyd Austin, a vice-presidente Kamala Harris e o secretário de Estado Anthony Blinken em seu primeiro ano. Além de aparecer nas reuniões da ASEAN e da Cúpula do Leste Asiático.

Por outro lado a criação dos órgãos internacionais como o Diálogo de Segurança Quadrilátero (Quad) e o acordo de segurança Austrália-Reino Unido-EUA (AUKUS), ambos feitos sem a participação dos membros da ASEAN, mas que podem refletir dentro de suas dinâmicas, foram mal vistas. O AUKUS em específico gerou críticas abertas de alguns governos locais que temem uma corrida armamentista no sudeste asiático. A visão dos EUA como um parceiro estratégico confiável e provedor de segurança regional caiu de 54,7% no ano passado para 42,6% este ano.

O abandono dos EUA em relação a Parceria Trans-Pacífico e a Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP) e o entusiasmo chinês em um avanço multilateral também estão impressos nesses números.

A impressão geral que se tem na ASEAN é que os EUA poderiam ser muito mais ativos e rivalizar de uma forma mais produtiva com a China se pensasse na região mais pela perspectiva econômica e comercial do que pela militar. Acontece que estamos em um período em que discursos protecionistas estão em alta, principalmente dentro dos EUA, e medidas nessa direção podem não render votos.

 

Referências

https://www.iseas.edu.sg/category/articles-commentaries/state-of-southeast-asia-survey/

 

Hope Deferred Makes Southeast Asia’s Heart Sick

 

https://thediplomat.com/2022/02/southeast-asian-elite-survey-paints-complex-picture-of-china-ties/

 

 

 

 

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