Ep 07: O caminho para o desenvolvimento africano

*Essa coluna mensal é derivada da parceria do MenteMundo com o Luis Rutledge, e que faz parte também, um podcast para debater esse assunto, confira aqui!

As turbulências geopolíticas ocorridas ao longo do ano mexeram diretamente com a
demanda energética mundial. Meses após o início de uma guerra que parece não ter fim,
o eixo da geopolítica energética se modificou com novas rotas e centros produtores que
se tornaram vitais para o abastecimento dos países da União Europeia.
Neste novo contexto, países africanos surgem, para os europeus, como alternativas para
suprir parte das perdas de óleo e gás provenientes da Rússia e, assim, usar seus imensos
recursos fósseis para se consolidar no mercado energético global como um supridor
seguro.

A pobreza continua sendo um enorme obstáculo ao desenvolvimento dos países africanos.
O continente que possui cerca de 16% da população mundial, consome apenas 3,3% da
energia primária global e contabiliza quase 800 mil pessoas vivendo sem acesso à energia
elétrica na África Subsaariana. E, os recursos energéticos são as ferramentas necessárias
para reverter este quadro negativo.

Notadamente, as principais fontes energéticas do continente são petróleo (42%), gás
(28%) e carvão (22%). E, se bem aproveitadas poderão suprir grande parte do continente
africano e servir de receitas às exportações ao mercado europeu.

Nigéria, Argélia, Líbia são tradicionais fornecedores de óleo e gás aos países europeus.
Recentemente, Moçambique entrou neste seleto grupo dos exportadores energéticos. A
África está preparada para atender os europeus no fornecimento de gás natural, hoje
crítico, e atualmente contribui com quase 20% das importações europeias de gás.

No contexto da geopolítica energética, observamos a União Europeia em tratativas com
o Egito para aumentar os embarques de navios de gás natural liquefeito (GNL) para os
países litorâneos ao mediterrâneo com infraestrutura de plantas de regaseificação. A
Itália, através da empresa ENI, já iniciou as tratativas para adquirir gás produzido por
Moçambique e República do Congo.

A Alemanha, país muito prejudicado com os sucessivos cortes de gás natural, tenta
viabilizar a produção de gás natural no Senegal. Em maio, o chanceler alemão Olaf Schoz
visitou o Senegal em busca de uma cooperação entre os dois governos na produção do
gás natural local. O governo senegalês do presidente Macky Sall recebeu este ano, além
do governo alemão, a visita de França, Itália, Polônia e Portugal. Todos visando um único
propósito: o gás natural africano.

O momento atual é extremamente oportuno aos africanos. Sem ter que disputar o mercado
com a Rússia, possuindo imensas reservas de gás natural e com a decisão da União
Europeia em mirar nos países africanos para suprir parte das perdas energéticas, a África
se posiciona de forma estratégica no cenário da nova geopolítica energética mundial.

GEOPOLÍTICA ENERGÉTICA

Os gasodutos existentes ao norte da África conectados ao continente europeu facilitam
por demais o planejamento conjunto para um maior abastecimento dos países próximos
ao mediterrâneo e que já não são abastecidos pelo gás russo. Argélia e Líbia, através dos
gasodutos Medgaz, Transmed e Green Stream, são fornecedores tradicionais de gás
natural a partir desta forma de infraestrutura. O que está em estudo no momento é o
aumento da produção dos reservatórios através de maiores investimentos de empresas
europeias. O fluxo atual de trânsito de gás ainda é baixo para a atual demanda europeia.
A Europa precisa de gás a curto e médio prazo e a África possui problemas internos –
conflitos civis na Líbia, roubo de cargas de petróleo e corrupção na Nigéria e fraca
infraestrutura de produção e distribuição em Moçambique – e a forte concorrência de
produtores tradicionais, como os EUA e o Catar.

O importante é que desta vez, a Europa não deverá repetir o mesmo erro e se tornar
dependente de um único fornecedor. Desta forma, mesmo mantendo o fornecimento dos
navios norte-americano e catari, os líderes europeus deverão buscar outras regiões
produtoras.

No entanto, somente com políticas voltadas ao desenvolvimento humano do povo
africano e o combate às milícias que inflamam conflitos civis a África transmitirá a
imagem de um fornecedor energético confiável e de longo prazo. Ou será somente um
fornecedor emergencial para o inverno europeu.

 

 

 

 

*Luis Augusto Medeiros Rutledge é engenheiro de petróleo e possui MBA Executivo em Economia do Petróleo e Gás pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Analista de Geopolítica Energética e Membro Consultor do Observatório do Mundo Islâmico de Portugal. Atua como colunista e comentarista de geopolítica energética do site Mente Mundo Relações Internacionais e no CERES – Centro de Estudos das Relações Internacionais. Pós-graduando em Relações Internacionais pelo Ibmec. Possui 16 anos de experiência em Projetos de Pesquisa e Desenvolvimento entre a UFRJ e o CENPES/PETROBRAS. Colaborador de colunas de petróleo, gás e energia em diversos sites da área. Contato: rutledge@eq.ufrj.br

 

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