Lula chega ao Vietnã

Nesse conturbado contexto geopolítico mundial, diversos países estão buscando alternativas para se proteger de tarifas e barreiras e a Ásia tem sido uma grande parceira para o Brasil, os maiores superávits comerciais do país estão no continente. As autoridades brasileiras sabem é muito tempo que Ásia é muito além de China e têm aumentado esforços para dialogar com a região.  Semana passada foi lançada na Câmara dos Deputados a Frente Parlamentar Brasil-ASEAN (sigla em inglês para Associação de Nações do Sudeste Asiático), que tem como objetivo aumentar os fluxos comerciais do Brasil com países da organização, que integra Indonésia. O bloco é o terceiro principal destino das exportações brasileiras, atrás apenas de EUA e China, tem um PIB agregado que gira em torno de US$ 3,8 trilhões (cerca de R$ 21,6 trilhões) e uma população de cerca de 682 milhões de habitantes, e há décadas a economia da região se encontra em constante expansão, com apetite crescente por produtos brasileiros.

Na quinta-feira (27/3), Lula embarca para Hanói, capital do Vietnã, onde tem previstos encontros com o primeiro-ministro do país, Pham Minh Chính, e o presidente do Vietnã, Luong Cuong, entre outras autoridades, retornando domingo (29/3). Além dessa viagem ao Vietnã, Lula foi convidado pelo primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, para a cúpula da Asean mais ao final do ano, assim como Lula deve convidar o Vietnã para participar de uma cúpula do Brics no Brasil em julho. Singapura assinou acordo de livre comércio com o Mercosul, Indonésia e Vietnã falam abertamente em seguir esse movimento.

Nos últimos 30 anos, o Vietnã passou por uma notável transformação econômica, alcançando um crescimento acelerado e se tornando uma história de sucesso no cenário internacional. O país adotou uma série de medidas e reformas econômicas que impulsionaram seu desenvolvimento e melhoraram significativamente os indicadores econômicos, lembrando que até 1994 o Vietnã sofria pesadas sanções pelos Estados Unidos. Hoje, o país asiático exporta mais e melhor que o Brasil, além do volume total ser maior, o Vietnã avançou muito em complexidade produtiva, isso que possuem a metade da população brasileiro e em um terreno 66 vezes menor.

Na nota oficial MRE: “O objetivo da visita é definir ações e iniciativas conjuntas para implementar a Parceria Estratégica entre Brasil e Vietnã, anunciada em 17 de novembro de 2024, quando o Presidente Lula e o Primeiro-Ministro do Vietnã, Pham Minh Chin, se encontraram à margem da Cúpula do G20 no Rio de Janeiro. Elevar as relações diplomáticas com o Vietnã ao nível de Parceria Estratégica permitirá que os dois países aprofundem o diálogo político, fortaleçam a cooperação econômica, expandam os fluxos de comércio e investimento, melhorem a coordenação em questões multilaterais e promovam novas iniciativas de cooperação.

Em 2024, Brasil e Vietnã registraram comércio bilateral totalizando US$ 7,7 bilhões, com o Brasil registrando um superávit de US$ 415 milhões. O Vietnã se tornou o quinto maior destino global das exportações do agronegócio brasileiro e se destaca como um dos maiores produtores mundiais de café, arroz e produtos eletrônicos, setores com potencial para maior cooperação bilateral.”

Mês passado governo brasileiro informa que as autoridades sanitárias do Vietnã aceitaram o Certificado Sanitário Internacional proposto pelo Brasil para a exportação de miúdos de frango. Em 2024, o Brasil exportou ao país aproximadamente US$ 4 bilhões. Entre os principais produtos exportados, destacam-se cereais, farinhas e preparações a base cereais, seguidos por fibras e produtos têxteis e soja. Com essa nova abertura, o agronegócio brasileiro alcança a 32ª abertura de mercado em 2025, totalizando 332 desde o início de 2023.

A segunda visita de Lula ao Vietnã como presidente ocorrerá no momento em que o Vietnã, sob pressão do governo Trump para reduzir seu grande superávit comercial, promete aumentar as importações dos Estados Unidos, incluindo produtos agrícolas como soja, da qual o Brasil é um dos principais exportadores para o país. Os dois países devem chegar a um acordo sobre um plano de ação em defesa, agricultura e energia, o que poderia impulsionar a cooperação em etanol, um combustível do qual o Brasil é um grande produtor global, afirmou a autoridade brasileira. O Brasil também quer aumentar as exportações para o Vietnã e está pedindo a Hanói que autorize as importações de carne bovina, abertura do mercado vietnamita para a carne bovina brasileira é uma pré-condição para um investimento que a gigante brasileira de alimentos JBS está considerando fazer no Vietnã, dizem fontes em off em alguns jornais brasileiros.

Separadamente, a Embraer também está em negociações para a possível venda de dez jatos E190 para a companhia aérea de bandeira Vietnam Airlines, disse a autoridade brasileira. Hanói está em negociações com os Estados Unidos para comprar aviões de transporte militar C-130 produzidos pela Lockheed Martin. Nos últimos dias, executivos seniores das gigantes da aviação Airbus e Boeing reuniram-se com importantes autoridades vietnamitas, de acordo com a mídia estatal e uma agenda interna vista pela Reuters. O Vietnã também está trabalhando na aprovação dos jatos Comac da China.

O Vietnã elevou Singapura e Indonésia ao status bilateral mais profundo que o país possui, a “Parceria Estratégica Abrangente”. Até pouco tempo atrás Hanoi dedicava esse nível de parceria apenas para grandes potencias mundial ou regionais e em uma larga distância entre uma assinatura e outra, possivelmente um sinal de mudança de rota para se adaptar aos novos tempos. E o Brasil? Estamos apenas um nível abaixo, elevamos a parceria para “Parceria estratégica” no fim do ano passado, e na ocasião, os asiáticos fizeram questão de enfatizar que querem assinar acordo de livre comércio com o Mercosul, como Singapura o fez.

Nações com “Parceria Estratégica Abrangente” com o Vietnã:

Eua

E Hanoi tem motivos para acelerar suas parcerias com quem estiver disponível, os americanos tiveram o quarto maior déficit comercial com o Vietnã no ano passado. Em 2024, o superavit em favor dos asiáticos chegou a espantosos US$ 123 bilhões, ou seja, 3% de tudo o que os EUA importam, veio do Vietnã. Em 2024, o PIB do Vietnã foi estimado em US$ 476,3 bilhões

Mês passado, O primeiro-ministro vietnamita, Pham Minh Chinh, reuniu-se com todo o seu gabinete e mandou que todos se preparem para uma possível guerra comercial global depois que o presidente dos EUA, Donald Trump, impôs tarifas de 10% sobre todos os produtos chineses. “Preparem-se para a possibilidade de uma guerra comercial mundial este ano”, disse ele. Pham disse ao Gabinete que a situação no mundo e na região estava “se desenvolvendo de forma muito imprevisível, afetando diretamente nosso país, especialmente nas exportações, na produção e nos negócios, e na macroeconomia”.

Ele enfatizou que se uma guerra comercial global ocorresse, com os países impondo tarifas retaliatórias sobre as exportações uns dos outros, isso poderia interromper as cadeias de suprimentos e reduzir os mercados de exportação do país, representando riscos significativos para a economia do Vietnã.

Entrevista mauro vieira para um site vietnamita:


– Em novembro de 2024, Vietnã e Brasil concordaram em elevar suas relações bilaterais para uma Parceria Estratégica, após 35 anos de laços diplomáticos. Você poderia descrever as principais áreas de cooperação e prioridades para fortalecer ainda mais as relações com o Vietnã nesta nova fase do governo brasileiro?

Durante o encontro na Cúpula do G20 no Rio de Janeiro em novembro passado, o Presidente Lula e o Primeiro Ministro Pham Minh Chính deram o passo histórico de elevar nosso relacionamento a uma Parceria Estratégica. Este marco reflete a força dos nossos laços diplomáticos e a amizade duradoura entre nossos dois países.

Também ressalta a amplitude da nossa agenda comum e nossa visão compartilhada de governança global reformada baseada na paz e no desenvolvimento. Ambas as nações continuam comprometidas com o multilateralismo, o Estado de direito e a resolução pacífica de disputas, com as Nações Unidas como eixo central do sistema internacional. Nossas sociedades compartilham aspirações por estabilidade, prosperidade e desenvolvimento sustentável.

Atualmente, estamos desenvolvendo um Plano de Ação para implementar a Parceria Estratégica. Este documento servirá como um roteiro para colaboração em áreas-chave como defesa, ciência, tecnologia, inovação, agricultura, sustentabilidade ambiental e transição energética. Esses setores têm grande potencial para aprofundar a cooperação, e estamos confiantes de que novas áreas de colaboração surgirão à medida que nossa aliança continua a evoluir.

O Vietnã e o Brasil se comprometeram a aumentar o comércio bilateral para US$ 10 bilhões até 2025 e US$ 15 bilhões até 2030. Você acha que o início das negociações para um Acordo de Livre Comércio entre o Vietnã e o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) ajudaria a acelerar a concretização dessa meta? Quais são as perspectivas para futuras negociações deste acordo?

* Valorizamos muito nossa parceria econômica com o Vietnã, o que se reflete em nosso compromisso de expandir o comércio bilateral. Estabelecemos metas ambiciosas que podem ser alcançadas por meio dos esforços conjuntos de ambos os países.

Como o Brasil é membro do MERCOSUL, qualquer negociação comercial que envolva concessões tarifárias requer uma decisão de seus membros. Estamos avaliando em conjunto a estrutura mais apropriada para uma cooperação econômica mais profunda com o Vietnã, levando em consideração as políticas econômicas de nossos países.

Sob o governo do presidente Lula, o Brasil está implementando políticas para reindustrializar a economia, melhorar a competitividade industrial e proteger empregos de alta qualidade. Esses esforços também priorizam investimentos em inovação e soluções sustentáveis. Estamos incorporando essa perspectiva em todas as nossas negociações comerciais atuais.

O fortalecimento de nossas relações econômicas também depende do avanço da agenda bilateral em questões de interesse mútuo, como investimentos e medidas sanitárias e fitossanitárias. Isso permitirá uma parceria econômica mais abrangente, impulsionando o crescimento sustentado e a prosperidade para ambos os países.

 

 

 

Referências

https://es.vietnamplus.vn/proxima-visita-del-presidente-lula-marca-un-nuevo-capitulo-en-nexos-vietnam-brasil-post217630.vnp

https://www.paulogala.com.br/evolucao-da-estrutura-produtiva/

https://www.paulogala.com.br/a-incrivel-historia-de-sucesso-do-vietna-dos-ultimos-40-anos/

https://www.gov.br/mre/pt-br/canais_atendimento/imprensa/notas-a-imprensa/abertura-de-mercado-no-vietna-2013-nota-conjunta-mre-mapa

Asean News – EUA e Vietnã: A nova Parceria Estratégica

O que está acontecendo no Vietnã?

Diplomacia do Bambu: A política externa vietnamita

https://www.infomoney.com.br/politica/lula-visita-japao-e-vietna-de-olho-em-ampliar-relacoes-na-asia/

https://www.msn.com/pt-br/dinheiro/economia-e-negocios/brics-avi%C3%B5es-e-carne-bovina-s%C3%A3o-destaques-em-visita-de-lula-ao-vietn%C3%A3-dizem-fontes/ar-AA1BiRzy?ocid=hpmsn&cvid=d43492432cbc4c56acecca3687b743ce&ei=287

https://www.bbc.com/portuguese/articles/cx29zdge171o

 

 

 

 

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